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Maiores bancos já têm 4,8 milhões de clientes digitais

O modelo de negócio da banca é cada vez mais digital, impondo o recrutamento de novas competências. Volume de trading dispara durante a Covid-19.
24 Abril 2020, 10h41

A digitalização da banca portuguesa está a estabelecer-se de forma inequívoca. Em números redondos, são cerca de 4,8 milhões os clientes bancários que recorrem aos serviços da banca digital, segundo os principais bancos a operar em Portugal e que foram consultados pelo Jornal Económico. São números que refletem o papel fundamental que a tecnologia representa para a estratégia do setor de melhorar a experiência dos clientes e de não perder pontos de contacto com estes nas operações de banca do dia-a-dia, uma área onde se começam a estabelecer as fintech.

Com cerca de 1,7 milhões de clientes digitais, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) é líder destacada neste indicador, com mais 700 mil do que o segundo banco com maior presença no digital: o Millennium bcp ultrapassou recentemente a fasquia de um milhão de clientes digitais. O Santander Totta completa o pódio, com mais de 800 mil, seguindo-se o BPI, com cerca de 700 mil, e o Novo Banco, com 600 mil. O Banco Montepio não divulgou estes dados.

Porventura, no início deste ano, estes números seriam atingidos mais tarde. Mas houve um agente surpresa que aumentou a adesão aos canais digitais da banca e a sua utilização: a Covid-19. Em março, quando foi decretado o Estado de Emergência que impôs as medidas de confinamento, 1,1 milhões de portugueses utilizaram os canais digitais da CGD, o que representou mais de 68% das operações realizadas por clientes do banco, bastante acima da média dos meses anteriores.

“Registámos um aumento de 30% no número de utilizadores na app Caixadirecta, tendo atingido 700 mil utilizadores únicos. Em termos homólogos, a CGD registou um crescimento de 32% do número médio de clientes na app e, nos diversos canais digitais, este incremento foi de 17%”, revela Maria João Carioca, administradora executiva do banco do Estado. Só na última semana de março, mais de 460 mil clientes acederam diariamente aos canais digitais da CGD.

Esta tendência verificou-se em quase todos os bancos porque “neste contexto, o dado mais marcante passa pela procura da activação remota dos canais digitais” substituindo as idas às agências, explicou o Novo Banco. O número de interações médias com os canais digitais do BCP subiu 13% face ao início do confinamento, enquanto as interações diárias com o homebanking do Banco Montepio subiram 21% e os downloads da app duplicaram, explica Patrícia Fernandes, diretora de marketing operacional do banco.

Já o BPI diz que “o movimento nos canais remotos teve algumas alterações de comportamento ao longo deste período, mas manteve-se globalmente perto dos padrões de variação mensal habituais devido ao aumento da atividade nos canais digitais e à redução global do negócio verificada com a situação de pandemia”.

Operações do dia-a-dia dominam o digital, mas há novidades

“Hoje, os clientes podem fazer a sua gestão financeira exclusivamente à distância”, refere Maria João Carioca. Os pagamentos de serviços, as consultas de saldos e de movimentos e as transferências são as operações realizadas com mais frequência no digital.

No entanto, o online absorve cada vez mais pontos de contacto na relação entre clientes e bancos. “É crescente também a utilização relacionada com a gestão das finanças pessoais, para acompanhamento dos gastos ao longo do mês, o contacto com os gestores por mensagens nos canais digitais e a utilização de outros serviços como a poupança e o crédito pessoal”, refere o BPI. E, “brevemente”, a CGD vai ‘pôr no ar’ a contratação de seguros de viagem, aumentando o leque de produtos aos quais os seus clientes têm acesso à distância, diz a administradora do banco público.

O banco do Estado diz que foi pioneiro na introdução do open bank em Portugal. “Através da app DABOX, os clientes podem fazer transferências entre as suas contas à ordem de qualquer banco, para qualquer conta de outra instituição bancária, sem sair da mesma aplicação”, diz Maria João Carioca. Por enquanto, a funcionalidade só está disponível a partir de contas da CGD, Activo Bank, BCP, Montepio e Santander, mas prevê-se que seja alargada a outras instituições financeira “a breve prazo”, adianta a responsável.

Actualização de competências

A implementação da tecnologia obriga os bancos a encontrarem novas competências no mercado através do recrutamento.

O BCP diz tratar-se de um processo “contínuo e desafiante”, necessário “para desenvolver as competências tecnológicas dos colaboradores”. Com o recrutamento, o BCP adquire “diferentes competências mais adequadas ao mundo atual, e é dirigido a perfis mais tecnológicos de analytics e de reengenharia de processos, robótica e Inteligência Artificial”, adianta o banco liderado por Miguel Maya.

A banca continua a ser o negócio do risco, mas este é agora analisado com instrumentos cada vez mais tecnológicos e inovadores. “De forma seletiva, temos vindo a recrutar, para funções de data analysts, especialistas em risco”, entre outros, vinca Maria João Carioca. “Uma das coisas em que este plano nos vai deixar mais fortes é na capacidade de gerir o risco e de usar a tecnologia para nos apoiar”.

O banco liderado por Paulo Macedo implementou “novas formas colaborativas de trabalhar”, focadas “nas necessidades e na experiência de cliente, dando prioridade ao valor para o negócio e ao time to market. Como exemplo, foi constituída uma equipa UX/UI, bem como implementadas metodologias AGILE, que estão a ser gradualmente disseminadas pelas várias áreas do banco”, explica a administradora da CGD.

Aumento da volatilidade beneficia trading

A crise causada pela Covid-19 aumentou a volatilidade dos mercados mas não assustou os investidores mais experientes, que identificaram oportunidades. Para Ângelo Custódio, trader do Banco Best, registou-se “uma maior frequência de negociação” desde o início do surto.

Na mesma linha, a XTB, uma corretora, frisa que os períodos de fortes quedas representam para os investidores “oportunidades para vender a descoberto no curto prazo. Ao mesmo tempo, fortes quedas são convidativas para os investidores de longo prazo que preparam zonas de entrada para posições de compra de longo prazo a valores mais baixos”.

Por outro lado, “os investidores fazem trading numa lógica complementar à sua carteira de ativos, nomeadamente para estratégias de curto prazo ou aproveitar oportunidades de mercado que surgem face às grandes variações sentidas em muitos instrumentos de negociação”, explica o trader do Banco Best.

O volume das transações aumentou nos períodos imediatamente antes e depois dos primeiros impactos do novo coronavírus em Portugal. Em fevereiro, o Banco Best sentiu um forte apetite dos investidores pela negociação de índices europeus e norte-americanos, “com especial foco nas tecnológicas muito expostas a serviços online e biomédicos”, diz Ângelo Custódio. “ Na área da negociação de derivados, o Banco Best negociou aproximadamente 1.8 mil milhões de euros em fevereiro e 1.9 mil milhões de euros em março” mais 155% em termos homólogos, vinca o trader.

Em março, a XTB registou um aumento homólogo do número de contratos negociados superior a 210%, nomeadamente em Forex, nos índices, e também em matérias-primas, como ouro ou o petróleo.

Nota da redação: no artigo publicado na edição impressa do Jornal Económico, mais concretamente no suplemento Banca Online & Trading, publicado na sexta-feira, 24 de abril, o jornalista interpretou de forma errada o número de clientes digitais do Millennium bcp. Desta forma, o número total de clientes digitais entre os maiores bancos portugueses foi revisto para 4,8 milhões. Pedimos desculpa pelo lapso.

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