Por estes dias, não faltam razões para acreditarmos que o mundo está à beira de um precipício. No entanto, há nações que têm conseguido manter-se arredadas da instabilidade global e que continuam a lutar por uma sociedade menos disfuncional e mais equilibrada.

A Islândia é um caso de estudo. Daquela ilha não recebemos notícias como uma possível eleição de populistas-nacionalistas, que tem ameaçado muitos países europeus. A notícia que domina ultimamente as manchetes islandesas é a de uma greve de mulheres.

Em 1975, a Islândia convocou a primeira greve geral de mulheres que levou a mudanças legislativas significativas, à criação de um partido e abriu caminho, pela primeira vez, à eleição de uma mulher como presidente do país.

Mas, mesmo sendo o 14.º país que mais respeita a igualdade de género, consideram que ainda há muito por fazer. No dia 24 de outubro, foi convocada uma nova greve geral, que levou mais de 100 mil pessoas (numa população de 376 mil) a sair às ruas, incluindo as mulheres governantes do país. A greve alerta ainda para o assédio e violência sexual e a sobrecarga do trabalho doméstico não-remunerado nas mulheres.

Esta greve é convocada num ano em que o Secretário-geral das Nações Unidas revela que, de acordo com as estimativas da ONU, ainda serão necessários 300 anos para atingirmos a igualdade de género. O progresso está cada vez mais dificultado devido à falta de condições em nações onde dominam regimes ou grupos fundamentalistas, que forçam a casamentos de menores de idade ou impedem o acesso de mulheres à educação.

A grande questão que devemos colocar atualmente é: como lidamos com um mundo com tantas disparidades em direitos fundamentais? Enquanto lutamos por mais avanços em países já bastante progressistas, como a Islândia, temos outros onde ainda impera o tribalismo, o patriarcado, a violência. Como podemos recusar tantas jovens que desejam emigrar (às vezes fugir) e deixar para trás uma vida em que não têm direito a escolhas? E que caminho podemos fazer para que elas possam ultrapassar estas barreiras?

O agravar de conflitos regionais e globais torna mais urgente do que nunca o investimento em saúde e educação, o reconhecimento da autonomia das mulheres em matéria de casamento, divórcio e custódia de filhos, a necessidade de retirá-las da economia paralela – em que recebem remunerações baixas sem qualquer proteção social – e o incentivo à literacia e autonomia financeira. O trabalho para encurtar os 300 anos tem de começar agora.