A pandemia de Covid-19 que assola o mundo poderá parecer singular aos olhos da sociedade atual, mas a verdade é que esta se encontra longe de ser um evento isolado na História. Pelo contrário, em quase todos os séculos se encontram fenómenos semelhantes e não há boas notícias: as pandemias vão continuar a acontecer e podem tornar-se mais recorrentes, de acordo com a UNESCO.

Neste sentido, é fundamental que aprendamos com as pandemias do passado e com a atual pandemia, a fim de estarmos mais preparados para lidar com o surgimento da próxima. No âmbito da Covid-19, os países responderam à emergência sanitária de modos distintos. Por um lado, muitos deles decidiram implementar fortes medidas restritivas, vistas como a única forma de se resolver a pandemia nos respetivos países com eficiência. Por outro lado, houve também aqueles que optaram por medidas mais brandas, seja por temerem um impacto catastrófico na atividade económica, seja por preferirem tentar acabar com a pandemia através da imunidade de grupo ou, até, por pura displicência em face de um dos fenómenos mais marcantes do século XX.

Dadas as diferentes abordagens, surge o debate sobre qual das duas abordagens produz um efeito mais nefasto na economia. Tem-se assumido que fortes medidas restritivas destroem a economia, mas será mesmo assim? Convido o leitor a considerar a evidência empírica em relação à pandemia de gripe de 1918 trazida pelo artigo “Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu” (2020), a fim de tirar conclusões.

Neste artigo, os autores comparam o desempenho económico de diferentes cidades norte-americanas, que aplicaram diferentes medidas de confinamento, com a taxa de mortalidade, no contexto da pandemia de gripe de 1918.

De acordo com este estudo, a curto prazo, não foi registada uma diferença significativa na atividade económica entre as localidades que adotaram medidas mais restritivas e aquelas que não o fizeram. No entanto, a médio prazo, existem evidências de que as medidas restritivas tiveram um efeito positivo na economia, o que contradiz o que é geralmente defendido.

A aplicação de medidas de saúde pública, tais como o encerramento do comércio, tem efeitos diretos e nocivos na economia, ao diminuir o consumo. No entanto, mesmo que estas medidas não fossem tomadas, as características intrínsecas de um cenário de pandemia, como a incerteza e o medo, iriam causar uma redução no investimento por parte das empresas e do consumo por parte das famílias, pelo que iria sempre existir uma contração da atividade económica. Isto pode justificar o facto de não existirem diferenças significativas entre as duas abordagens a curto prazo.

No entanto, as restrições acabam por aliviar o impacto do choque original – a própria pandemia – ao diminuírem o número cumulativo de infeções e óbitos. O maior controlo da situação epidemiológica aumenta a sensação de segurança das famílias e empresas, o que acaba, ironicamente, por salvar a economia no médio prazo.

Assim, o impacto desta pandemia no crescimento económico futuro dependerá sempre em grande medida da eficiência de cada governo na sua gestão. Estratégias de confinamento mais radicais poderão prejudicar a economia no curto prazo, mas ter consequências económicas e sociais mais desejáveis no médio e longo prazos. Caso optem pela segunda estratégia (menos restrições), poder-se-á dar o caso de a economia no curto prazo sofrer menos, mas traduzir-se numa incerteza que produza um impacto negativo no médio prazo.

Em suma, e numa nota mais positiva, segundo a Goldman Sachs, mesmo num cenário de restrições quase tão fortes como as implementadas na primeira, o crescimento económico será agora menos penalizado, argumentando que “a sensibilidade da atividade económica às restrições diminuiu significativamente desde o primeiro confinamento”.

Torna-se, então, imperativo percebermos as mudanças profundas que os cidadãos e as empresas tiveram de fazer num tão curto espaço de tempo. A transição para modelos de negócio digital, modos de trabalho à distância, assim como a reconversão de trabalhadores de setores em crise para outros em crescimento vertiginoso mostram a capacidade de adaptação que a espécie humana continua a ter.

Resta-nos agora criar uma economia mais resiliente à crise, mais preparada para a mudança, mais ágil na incerteza e mais solidária com quem fica para trás.

 

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.