António Costa Silva, no seu documento “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030”, defende que “o país precisa de ter recursos humanos com as qualificações e competências necessárias ao desenvolvimento e transformação económica, ambiental e social que se pretende promover, destacando-se os seguintes eixos de intervenção: combater o abandono e insucesso escolar; recuperar o défice de escolarização dos adultos, em especial dos adultos jovens, e reforçar a qualificação e formação profissional; alinhar a qualificação dos jovens com as novas especializações económicas, dando particular atenção às competências digitais, e à sua inserção profissional; promover a formação contínua e a aprendizagem ao longo da vida, incluindo a reconversão de competências dos adultos menos qualificados, facilitando a sua inserção no mercado de trabalho; criar condições para aumentar o número de jovens que frequentam, com sucesso, o ensino superior”.

No fundo, descreve-se a necessidade de apostar no desenvolvimento das pessoas, recurso inestimável e ainda por potenciar, dos poucos recursos que o país tem à disposição para vencer os desafios do futuro. Todavia, importa reforçar que nesta visão nem sempre é claro que o carácter distintivo e essencial desta aposta não está apenas, nem de perto nem de longe, nas aprendizagens de conteúdos e no saber utilizar as tecnologias.

As pessoas não são só importantes e produtivas pelo nível com que conseguem operar com máquinas, equipamentos e aplicações informáticas. Os alunos não são melhores cidadãos apenas porque têm as melhores notas, não aprendem mais por terem mais horas de aulas, nem passam a gostar mais da escola simplesmente por terem acesso a mais meios tecnológicos ou melhores instalações, embora isso possa ser um contributo.

Para além disso, o mercado de trabalho solicita e solicitará crescentemente perfis profissionais com fortes competências de trabalho em equipa e relacionamento interpessoal, bem como os dados existentes sobre o impacto do trabalho na saúde, nomeadamente na saúde psicológica, sublinham a importância de intervir precocemente junto das crianças, particularmente as mais vulneráveis, bem como de promover desde cedo as suas competências sócio-emocionais, como factor protector e de bem-estar na vida adulta.

Acresce que as pessoas não passam à aprendizagem e desenvolvimento contínuo das suas competências por decreto, sendo que os aspectos comportamentais e motivacionais, o seu conhecimento e capacidade para intervir sobre eles é componente essencial desta e de qualquer política pública.

Isto mesmo está também presente quando mais à frente no documento, Costa Silva destaca a importância de se ir além da Medicina e da Biologia no que concerne às aprendizagens com a pandemia e ao investimento futuro nas ciências da saúde, o que aliado à defesa que faz da prevenção da doença, ligando isso mesmo à promoção de hábitos de vida saudável, destaca claramente a importância que deve ser dada à Psicologia enquanto ciência que estuda o comportamento e os processos mentais.

A Psicologia aborda a saúde e o bem-estar humanos a partir de uma abordagem multinível, dentro de uma perspectiva bio-psico-social, que permite que os psicólogos trabalhem com comportamentos saudáveis, em risco ou que se enquadram na categoria de uma doença. Os psicólogos trabalham ainda com indivíduos ou grupos para melhorar o seu rendimento e desempenho em diversos contextos, incluindo o do trabalho.

Se o mais importante das empresas são as pessoas e se estas e as suas decisões são críticas para o seu sucesso e competitividade, um plano como este necessita dos contributos da Psicologia e dos psicólogos, como aliás fica muito visível pelos dados do recente relatório “Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações: Custo do stress e dos problemas de saúde psicológica no trabalho, em Portugal”.

Um programa de estímulo à prevenção dos riscos psicossociais nas organizações pode ser um bom instrumento ao serviço da recuperação do país, bem enquadrado numa “Agenda de Prevenção e Desenvolvimento das Pessoas para a Coesão Social e Competitividade” que parece estar contida na Visão Estratégica de Costa Silva. Estará assumidamente nos Planos do Governo? Há mais de 3 mil milhões de razões para isso mesmo…

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.