Felizmente existe um quase consenso na sociedade de que os tempos de excepção que atravessamos acarretam duas dimensões que têm de ser conciliáveis: a emergência sanitária e, quase a par e passo, o apoio às empresas e às famílias que estão a sofrer (ou irão sofrer) com a paragem da economia portuguesa.

Anteriormente, salientei aqui que o padrão de especialização da nossa economia, a baixa rendibilidade das micro e pequenas empresas, e os baixos salários dos trabalhadores, irão implicar um esforço acrescido de capacidade de liderança e de solidariedade, sob pena da recessão que vamos sofrer se transformar numa depressão sem igual.

Em nome da solidariedade, em todos os países da OCDE, que estão a decretar moratórias e a tomar medidas para fazer chegar liquidez às empresas e às famílias, os bancários e os bancos estão a desempenhar um papel crucial.

Não me refiro aos pseudo-bancos que não têm balcões, que não pagam impostos em Portugal e que beneficiam de dumping fiscal, e que nem empregam trabalhadores portugueses. Pseudo-bancos virtuais, pelos quais nos últimos anos os portugueses pareciam apaixonados por não cobrarem comissões, mas agora que precisam deles, estão ausentes.

Na hora da verdade, restam-nos os bancários dos bancos que realmente têm portas abertas em Portugal e que em poucos dias montam as moratórias ou as linhas de tesouraria que as famílias e as empresas necessitam. Os mesmos bancários que prestam serviço público, de apoio à emergência económica, e que estão a servir os portugueses, independentemente das condições de segurança sanitária nos seus locais de trabalho.

Naturalmente, seria conveniente que a República Portuguesa tivesse um sistema de garantias mútuas mais generoso (abrangendo tanto coberturas perto dos 100% dos créditos, como empresas em NPL, mas a laborar, a empregar e a pagar os seus impostos), mais rápido, e mais capaz de acompanhar a eficácia e a eficiência dos bancários. Este é o papel de quem está a prestar serviço público no sector financeiro, i.e. fazer chegar o alívio de tesouraria a quem dele mais precisa e com toda a celeridade.

Estes são os mesmos bancários que no passado foram vítimas de ‘banqueiros’ que, fruto de políticas de concessão de crédito imprudente, colocaram os seus bancos em sérias dificuldades. Claro está que não nos esquecemos que foram os contribuintes, os accionistas, muitos deles pequenos aforradores, e os bancários (um em cada três perdeu o seu posto de trabalho), os grandes prejudicados pela imprudência na concessão de crédito a grandes empresas que incumpriram de forma estrondosa.

Que me perdoem todos os demais, mas os bancários foram imolados na praça pública por crimes que não cometeram e os verdadeiros responsáveis, após todos estes anos, continuam sem ser julgados nos tribunais.

Os bancos devem prestar todo o apoio à economia? Claro que sim. É um imperativo moral, ao qual acresce uma responsabilidade social inelutável, dentro de saudáveis critérios de prudência e de racionalidade económica. Apoiar a economia, sim, mas sem populismos bacocos e sem esquecer o quanto nos custaram os resgates passados.

Os bancários não voltarão a ser vítimas inocentes da imprudência do passado, alvos colaterais de populistas ou de gestores imprudentes. Estamos e continuaremos a estar ao lado dos portugueses, nesta hora em que tanto precisam de nós, contribuindo activamente para apoiar a economia. Apenas e só, o que não é pouco.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.