A lista de candidatos que têm avançado para as eleições presidenciais ilustra uma verdade fundamental sobre o nosso país: ele pertence a homens brancos, acima dos 50 anos e de ideologia conservadora. Um fenómeno que está longe de se limitar aos cargos políticos e é visível em inúmeras áreas de trabalho, como administrações, bancos e empresas.
Fomos ensinados a aceitar a ideia de que este é o perfil que saberá orientar os destinos do país. Mas talvez seja altura de questionarmos a ideia de que os homens são considerados mais competentes ou respeitáveis do que as mulheres ou até jovens. A própria Constituição discrimina ao indicar que um candidato/a à Presidência tem de ter idade superior a 35 anos.
Não é só uma questão de representatividade. O contributo das mulheres na política, embora tenha saído reforçado nos últimos anos, ainda está longe de ser suficiente. Ainda vemos demasiadas mulheres condicionadas na sua entrega à atividade política.
Estaremos nós a fazer o suficiente para que as mulheres se queiram dedicar a esse serviço público? Já António Pires de Lima, o presidente do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável apontava “um histórico de poucas mulheres líderes, tanto na política nacional como no universo empresarial” e defendia que “mais mulheres no poder podem ser sinónimo de menos crises”.
Perante a atual lista de candidatos presidenciais é impossível não desmoralizar. Há uma parte significativa de eleitores que está sedenta de mudança e maior diversidade, mas não saímos deste ciclo de políticos de carreira que escolhem a sua presidência para uma reforma de luxo.
Embora nomes como Marisa Matias ou Ana Gomes tenham feito fortes campanhas nas últimas duas eleições presidenciais, é preciso ir muito mais longe. A candidatura de uma mulher não tem de ser simbólica, nem ser considerada de segundo plano. E num contexto político em que a extrema-direita quer ditar qual o lugar da mulher na política e na sociedade, importa mais do que nunca mostrar que esse lugar é também no topo.
Curiosamente, se eu quisesse avançar com uma candidatura presidencial, estaria impedida pela Constituição da República Portuguesa por não ser portuguesa de nascimento. Não tenho interesse no cargo, mas deixo a reflexão para os leitores. Adotei este país como meu, mas isso não chega para que, um dia, possa candidatar-me à Presidência da República. Fará sentido esta exclusão?