Assinalou-se ontem, 25 de novembro, mais um Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. Mais um dia. Mais um dia de medo para milhares de mulheres. Mais um dia de terror para tantas e tantas mulheres. Mais um dia de desespero e de desesperança. Mais um dia… de violência.

A pandemia mudou-nos, torturou-nos e, para incontáveis mulheres e meninas, trouxe o fim definitivo de uma simples noite descansada. Não. Não foi a pandemia que trouxe a violência, ela só a fez recrudescer. Não. Não foi a pandemia que silenciou a já silenciada violência da vida de tantas e tantas e tantas mulheres e meninas. Mulheres e meninas tão, tão cansadas de tentarem ser livres.

Se, felizmente para si, não é o seu caso, imagine-se a viver diariamente numa casa onde a violência é recorrente. Imagine-se a ter medo de ir para casa, a ter medo de estar em casa, a ter medo de não conseguir proteger-se, a si e aos seus filhos.

Não. Não é um exercício fácil quando nunca se vivenciou tal situação. Mas, ainda assim, tente. Só assim vai sentir que não podemos continuar a fingir que um enorme flagelo atinge milhares de pessoas. Só assim iremos perceber que não dá mais para assobiar para o lado quando ouvimos gritos, quando percebemos que aquela amiga ou colega de trabalho está mais ausente ou numa tristeza alienante.

Se sabemos que, estruturalmente, a violência doméstica está intrinsecamente ligada às desigualdades de género, até quando continuaremos a aceitar que estes desequilíbrios são normais? Até quando entenderemos ser normal que as lideranças políticas, económicas, militares, policiais e sociais sejam quase sempre assumidas por homens, os mesmos homens ou homens muito parecidos com esses homens?

Sim. Eu sei que poderá estar a pensar que “lá vem outra vez a mesma música”, mas, mesmo assim, não podemos parar. Aliás, devemos falar mais e cada vez mais alto. Conforme sublinha a campanha da Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade e da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, “enquanto houver uma vítima de violência doméstica, não vai ficar tudo bem”.

Pois não vai mesmo. Desde que começou a pandemia e, especialmente, quando fomos confinadas/os, a severidade da violência doméstica aumentou muito significativamente, a saúde mental das vítimas degradou-se exponencialmente e o controlo do agressor sobre as vítimas concretizou-se em pleno.

Estes dados, que resultam de um estudo da Universidade da Beira Interior a publicar em breve, indicam que, em Portugal, desde 2020, milhares de mulheres passaram a estar muito mais fragilizadas – porque fechadas com o agressor no mesmo espaço –, mais mulheres sobreviventes precisaram novamente de apoio dos gabinetes de apoio à vítima e dezenas de mulheres perderam a vida.

Este é um pedido, um alerta: esteja atenta/o aos sinais, aos sons, aos olhares, aos pedidos de ajuda sem palavras, à falta de sorrisos no rosto de uma menina. Ao medo que a máscara esconde, mas os olhos e as mãos não deixam escamotear. Se se aperceber de algum caso de violência contra alguma mulher ou menina, não hesite em denunciar. Se vive em contexto de violência, peça ajuda.

Só descansaremos quando todas estivermos a salvo. Só descansaremos quando o dia 25 de novembro marcar a erradicação da violência contra a mulher e deixar de ser necessário. Até quando temos de esperar? Não sei. Mas, até lá, lutemos!