A situação económica está como na música de Bob Dylan: a hard rain’s a-gonna fall. Aparentemente, a vida não vai ser fácil neste final de ano. Nós, na Europa, vamos estar com os olhos na Alemanha, onde o PIB vai cair 0,4% este ano e o crescimento deverá ficar nos 0,7% em 2024, metade dos 1,3% projetados pelo governo alemão.
A política monetária vai estar na primeira linha. A inflação tarda a ser domada: caiu, mas ainda está longe dos 2%; assim não há condições para descer a taxa de juro, ao nível mais alto em mais de 15 anos, o que prejudica o investimento e torna caro financiar os défices orçamentais, um travão à utilização da política fiscal.
Mais, quando r-g, a diferença entre a taxa de juro e a taxa de crescimento, aquele cálculo cabalístico, fica perto de zero como está agora, os juros da dívida pública igualam o crescimento do produto, ou seja, o rácio da dívida pública sobre o produto aumenta se há défice orçamental. Portanto, combater uma potencial recessão sem prejudicar o rácio da dívida, já generalizadamente elevado, fica por conta da política monetária, ela própria de mãos atadas.
Normalmente, estamos como no filme de Besnard: a situação é grave, mas não desesperada. Porém, quando as taxas de juro de longo prazo são elas próprias altas, amanhã não é a véspera do dia em que a coisa passa. Vai ser um olho nos juros, outro na dívida.
Fora da União, a vida não está mais fácil. O Reino Unido tem uma inflação de 6,3% com as taxas de juro mais altas em 15 anos e estagnou no terceiro trimestre, que se estenderá a 2024 a acreditar no Banco de Inglaterra. A dívida ultrapassou este ano 100% do PIB e cresce.
No Japão 8% do orçamento vai para juros da dívida. Mesmo a economia americana, aparentemente um oásis, tem uma situação a prazo complicada: se a inflação caiu para os 3,7%, a taxa de desemprego está abaixo dos 4% e o crescimento do PIB no último trimestre, anualizado, foi 4,9%, o défice orçamental em 2023 foi de 6,3% do PIB, claramente insustentável para um ano de pleno emprego – a economia americana tem estado dopada e ficou viciada em défices (diz a presidente do Committee for a Responsible Federal Budget), mas tem que parar senão tem uma overdose de dívida pública, hoje já em 123% do PIB.
Se pouco for feito, uma política fiscal insustentável a longo prazo vai traduzir-se em inflação, com uma única vantagem: é como avisavam Bonner e Wiggin no Empire of Debt de 2005: “At some point, America’s debt will be incinerated by inflation.”