A expressão “bloquismo de direita” não é minha, é do politólogo António Costa Pinto. Acho que assenta como uma luva num grupo de eleitores que, como eu, está, à data, sem qualquer representante. E eis que foi para nós que Santana Lopes olhou. Se nós vamos olhar para Santana Lopes, já é uma conversa completamente diferente.

Há uma razão para que a popularidade de Cristas não se traduza numa capitalização relevante de votos da direita que têm, de resto, engordado a abstenção e que, por essa via, viabilizaram a construção de uma alternativa de poder à esquerda. É a mesma razão pela qual nos entusiasmámos com Pedro Passos Coelho, apesar de ter sido sol de pouca dura. Queríamos, então como hoje, uma direita verdadeiramente liberal, não reacionária.

Economia. Um programa económico que retirasse Portugal da condição de refém do ciclo económico europeu e relançasse a nossa economia por via de um verdadeiro emagrecimento do Estado, de um reequacionar das funções que cabem ao Estado e que são melhor desempenhadas pelos privados. Um programa económico assente na melhoria das condições das empresas – uma redução drástica de impostos – que fosse incentivadora da contratação. Um programa económico que reduzisse défice e dívida em termos reais e não apenas em percentagem do PIB. Um programa económico que libertasse Portugal. Que nos libertasse a todos nem que esse caminho demore duas décadas.

Justiça. Uma direita que liderasse uma reforma da Justiça, que não estou certa que dependa de alterações legislativas de fundo, mas sim da criação de mecanismos de vigilância e escrutínio dos atores da justiça, de forma a termos a única Justiça que podemos aceitar: a Justiça que respeita absolutamente os direitos, liberdades e garantias de todos os cidadãos. Que resiste a estratégias mediáticas e manipuladoras do mediatismo, que protege e garante que as regras processuais são escrupulosamente cumpridas e não “vendidas” ao povo como obstáculos à realização da justiça, nem como ferramentas da justiça dos ricos. Dizer simplesmente “à justiça o que é da justiça, à política o que é da política” é uma argumentação que só é confortável para os políticos e sistema de justiça, mas que não salvaguarda quem a Justiça serve: todos nós. Com este argumento temos juízes como Neto Moura e uma corporação que o legitima. Não chega.

Uma agenda social de liberdade. Estamos na era da geração Z. Já nem podemos dizer que os millennials são o desafio do momento. Só por clubismo partidário é que a matriz ideológica esquerda-direita satisfaz quer uma, quer outra geração. O que todos queremos e já praticamos é uma liberdade de costumes, e é com espanto que vemos matérias a ser discutidas no Parlamento que dizem respeito às nossas liberdades individuais. Castradoras dos nossos direitos, desde o direito à propriedade, à adoção homossexual e, até há bem pouco tempo, pasmemo-nos, casamento homossexual. Não se trata de retirar ao Parlamento e aos governos o seu papel de regulador de uma sociedade. Mas trata-se de fazê-lo fora do clubismo partidário e de governação e campanhas para os militantes. Há uma sociedade que excede os partidos. Vale grande parte dos 60% que não votam. E está a gritar por representação.