Daqui a poucos meses começa uma nova ordem global, quando a administração Trump tomar posse. É inútil aguardarmos por cenários otimistas. Tudo será muito pior do que imaginávamos.
Os americanos abriram a caixa de Pandora para se iniciar o desmantelamento de muitas conquistas sociais e laborais. As desigualdades irão agravar-se e fala-se mesmo da nova era Gilead, uma referência ao universo ficcional distópico criado por Margaret Atwood em “Crónica de uma Serva”, na qual os EUA são governados por um regime fundamentalista repressivo.
Trump tem ao seu lado bilionários que se irão responsabilizar pela remodelação de governos federais para torná-los mais eficientes, destruindo o serviço público que passará a estar vergado aos caprichos de um CEO com uma perigosa agenda pessoal.
Tem também ao seu lado Putin, um dos oligarcas mais fanáticos de que há memória. A sua estratégia para gizar uma máquina global de propaganda, que alimentou o crescimento da extrema-direita em todo o mundo ocidental, teve um enorme sucesso, há que admiti-lo. Máquina essa que conseguiu, ainda, semear divisões entre as forças ao centro e esquerda, que não souberam fazer-lhe frente.
A Europa, vulnerável face à dependência dos EUA e da NATO, terá de enfrentar uma tempestade nos próximos anos. A Europa de Leste, Cáucaso, Ásia e África há muito que estão minados pelos russos e chineses. E a pouca esperança que restava para o Médio Oriente não só está despedaçada, como a região passará a estar sob o controlo da nova ordem global.
As notícias más e péssimas vão começar a avolumar-se a partir de janeiro do próximo ano. O que pode ser feito?
Antes de mais, importa proteger a nossa saúde mental. Um passo muito simples pode passar por filtrar melhor as nossas fontes de informação e evitar o ruído e a desinformação. Evitar redes sociais com algoritmos perniciosos e narrativas subliminares (começam a crescer alternativas às redes do Meta e X).
Depois, é fundamental criar espaços seguros em casa, entre família ou amigos. Reforçar os laços com a comunidade, com o bairro e cidade, e criar redes de proteção para todos aqueles que delas poderão precisar. Não faltam associações no terreno e não se deve subestimar a capacidade de organização da sociedade civil. Não menos importante, urge exigir mais dos nossos políticos, mas sem ceder a populismos, à intimidação ou ao medo, e procurar sempre a proteção da comunidade.
Vêm aí tempos complicados. Teremos de evitar divisões entre aliados, procurando a união, se não queremos ser apagados da fotografia.