Gil Vicente, Vizela, Sp. Braga, Famalicão, Vitória Sport Clube e Moreirense. Um terço do total das equipas da I Liga mora no distrito de Braga com seis plantéis que valem mais de 250 milhões de euros. Em entrevista ao JE e a poucos dias de se iniciar a nova temporada, Manuel Machado, presidente da Associação de Futebol de Braga, explica o que está por trás desta preponderância do distrito bracarense no principal escalão do futebol português.
Como se consegue ter um terço dos clubes da Primeira Liga no distrito de Braga?
Ter seis clubes em 18 emblemas na Primeira Liga é, sem exagero, um caso único. Como sabe, o Minho tem uma grande paixão pelo desporto e pelo futebol de forma particular. A razão deste sucesso resulta desde logo da competência, da visão das administrações no sentido de contratar os melhores colaboradores nas várias áreas. Depois há uma aposta de extrema importância que está relacionada com o scouting, na contratação de jogadores a outros clubes sobretudo de atletas em idade de formação. Os clubes trabalham com dificuldades, tal como acontece um pouco por todo o país, mas com alguma coerência naquilo que é a sustentabilidade. O Sporting de Braga e o Vitória de Guimarães são clubes de referência a nível nacional e internacional. A região do Minho está em franco desenvolvimento económico, pese embora o contexto pandémico que estamos a viver. Não há dúvida nenhuma que há aqui uma enorme paixão pelo desporto.
Quer destacar algum caso?
Podemos dizer que o Moreirense é um exemplo da competência com que se aborda a gestão destas SAD. É um clube de uma vila pequena com poucos sócios mas que demonstra claramente a competência no recrutamento de recursos humanos: das equipas técnicas aos atletas. Destaco também o Gil Vicente que foi afastado de uma forma injusta mas que felizmente voltou ao convívio dos grandes.
Foi presidente do Vizela. Como assistiu à promoção do clube à Primeira Liga?
Para mim foi uma dupla satisfação. Como presidente da AF Braga sou presidente de duzentos e muitos clubes, mas não posso negar que o meu clube de coração é o Vizela. Estive 19 anos neste clube, era chefe do departamento de futebol quando o clube subiu pela primeira vez ao convívio com os grandes na época de 1983/84. Revivi todas as emoções daquela temporada. Às vezes há surpresas mas não há milagres. Ninguém esperava que em dois anos consecutivos, o Vizela subisse da 2ª B à Segunda Liga e daí para a Primeira Liga.
Mas é resultado de ser um projeto bem estruturado.
Exato, é fruto de ser um projeto bem calculado, sustentado, uma vezes dá certo… outras nem por isso. A bola bate na barra e pode entrar ou pode sair.
O Famalicão esteve tremido na época passada, mas conseguiu manter-se.
Sim, andou pelas ruas da amargura na época anterior mas mercê de uma estrutura bem conseguida e com uma SAD com boa capacidade de gestão, através de Miguel Ribeiro, possibilitou a manutenção na Primeira Liga. Julgo que estão criadas as condições para que em 2022/23 continuemos a ter seis clubes em 18 emblemas da Primeira Liga.
Neste contexto pandémico, que dificuldades se deparou enquanto líder da AF Braga?
Não foi tarefa fácil para ninguém: clubes, treinadores, atletas… para os próprios árbitros. Vai demorar alguns anos a recuperar todo o talento que se perdeu no futebol de formação. Assinámos alguns protocolos que vão permitir que mais alguns clubes se juntem ao futebol federado. Foi muito complicado para toda a gente. Vou-lhe deixar um desabafo: se há coisas que tenho saudades é de ser maltratado nos estádios porque quando um jogo corria menos bem, a culpa era da AF Braga que tinha enviado um árbitro para aquela partida. A resiliência dos nossos clubes tem sido extraordinária. Tomámos decisões que não agradaram a toda a gente. Temos tentado, com alguma dificuldade, ferir o menos possível a integridade desportiva das provas. Estamos a ver se conseguimos aliviar, na medida do possível, a tesouraria dos clubes. Posso dizer que se não houvesse público esta época, isto batia no fundo.
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