A economia está a acelerar, o Fundo Monetário Internacional estima números melhores de crescimento para este ano e duas atividades críticas no país, construção civil/promoção imobiliária e turismo dão “gritos de alerta” por falta de mão de obra qualificada.

O tema é recorrente e após períodos de contração económica ou crises, como foi o caso em 2008 com o sistema bancário, depois em 2011 com o tema da troika e em 2020 com a pandemia, vem a bonança e o crescimento. E regressa também o velho “choradinho” de empresários e organizações de que não há técnicos qualificados e aqueles que havia, emigraram.

Ora, o tema está aqui mesmo, na emigração, e que mais não é do que a expressão da necessidade de uma população que quer melhores condições de vida. O sindicalista Albano Ribeiro, citado pelo “Diário de Notícias” afirma que a crise da troika levou 300 mil trabalhadores da construção civil a saírem do país, dos quais 16 mil eram engenheiros civis.

Com vencimentos mínimos entre os 10 mil e os 14 mil euros/ano, qualquer técnico da construção civil procura uma Alemanha, França ou Luxemburgo, onde o salário é quatro a seis vezes superior e, mais, nem sequer faz a vida típica do emigrante dos anos 60, porque a facilidade de mobilidade em low-cost lhe permite ir ao domingo e regressar à sexta-feira.

Esta é a tempestade perfeita no mercado da construção civil que precisa de mão de obra para tudo o que o PRR permitir em termos de obra, e precisa de funcionários para a indústria do turismo, que está a entrar na época forte e onde se prevê um verão com ocupação plena.

A base do problema reside, claramente, nos vencimentos que não atraem para trabalhar nestas indústrias e que não incentivam à formação de quadros jovens. É a “tempestade perfeita” em que não se consegue recrutar porque não há mão de obra e esta se recusa trabalhar porque não há salários com o mínimo de dignidade.

Recordemos, além disso, que sempre que há um período disruptivo e a mão de obra desaparece, porque emigrou ou mudou de profissão, se perde uma espécie de “escola” no país. Esta é mão de obra que não volta. Acresce que, com um eventual aumento da carga salarial, promotores de imobiliário e gestores hoteleiros não terão outra solução senão aumentar dramaticamente os preços.

Resultado? A classe média deixa de ter acesso à habitação, até porque os “remediados” já não chegam lá com os preços atuais. E no turismo cai a procura, porque a indústria está vocacionada para um nível médio/baixo de consumidor. As iniciativas feitas ao longo dos anos para valorizar a indústria do turismo, nomeadamente via golfe, levarão anos a implementar e mais anos a consolidar.

O Instituto Nacional de Estatística continua a registar números muito positivos para o país em termos de desemprego e de criação de emprego. Desde há dois anos que não estava tanta gente empregada: estão praticamente cinco milhões de cidadãos registados com atividade laboral, sendo que a população empregada aumentou 0,4% em cadeia no primeiro trimestre, o que significa mais 115 mil pessoas do que no período anterior à pandemia.

O nível de desemprego, sublinhe-se, está nos 5,9%, menos um ponto percentual que no período pré-pandémico, ou seja, desde o último trimestre de 2019.