Em Dortmund um advogado deu-se mal com algo que muitos apreciam: pizza, e gratuita. Guido Grolle recebeu mais de uma centena em duas semanas e meia, a ponto de já não conseguir trabalhar com tanta entrega. De noite ou de dia, às mais variadas horas, aí está uma pizza pronta a entregar naquilo que a polícia alemã descreve com um caso agudo de “pizza stalking”.

Já lá vai o tempo em que as pizarias lhe telefonavam para saber se a encomenda era real, tal foi o número de pizzas devolvidas. A coisa não ficou resolvida, pois agora é sushi, salsichas ou comida grega que lhe vai parar ao escritório. As razões deste estranho comportamento não são conhecidas. Se alguém se acha mal defendido, se irritou terceiros ou se se trata de um engano de quem está zangado com o escritório de meirinhos que fica no mesmo prédio, não se sabe.

Isto é curioso porque um pizza stalker é, no vocabulário urbano, uma pessoa que come tanta vez pizza que as encomenda em sítios diferentes, para não se notar. Neste caso, como Grolle não foi à montanha, foi a montanha (de pizzas) que foi ter com ele.

A polícia não consegue “encaixar” nos tipos de stalker conhecidos. Há o stalker rejeitado, que fica assim no fim de uma relação; o stalker ressentido, que se sente maltratado ou humilhado; o stalker intimista, que procura um confidente; o stalker incompetente, que se sente só; e o stalker predatório, que o faz por desvio sexual. Ora, este stalker não cai em nenhuma categoria, o que lhe facilita o anonimato.

Há casos mais estranhos. Derek Knowles, um camionista inglês de 50 anos alvo de uma ‘restraining order’ por importunar a sua ex com SMS e telefonemas, passou a deixar-lhe mensagens e pedidos através de programas de rádio. Ou Ricardo Lopez, que, incapaz de atrair a atenção de Bjork, resolveu enviar-lhe uma carta bomba com agulhas infetadas com o vírus da sida. Kevin Gary, que passava de carro à porta do emprego de Harvette Williams, telefonava-lhe constantemente e entrava-lhe em casa até ter sido preso; então instaurou um processo, que durou mais de dez anos, a Williams e uma produtora que usou a história.

Mais. Petros Khalesirad, blogger político australiano de Rockhampton, evitou que o tribunal lhe fixasse uma zona de exclusão de 100 metros em redor do escritório de Brittany Lauga, parlamentar australiana; o tribunal deu-lhe razão por considerar não haver prova suficiente, uma vez que ele investigava os negócios do marido de Lauga. Isto sem falar em Hinckley Jr. e a sua obsessão por Jodie Foster.

Pois é, isto até parece uma campanha eleitoral em Portugal, em que somos vítimas de stalkers rejeitados, ressentidos, intimistas, incompetentes e predatórios, tudo ao mesmo tempo, e nem à polícia podemos ir.