Fearless Girl é uma escultura de bronze de Kristen Visbal, encomendada pela State Street Global Advisors e divulgada numa campanha da agência de publicidade McCann New York. Uma menina, por sinal latina, que enfrenta o temível e assustador Touro de Wall Street. A peça foi colocada na rua no dia 7 de março de 2017, no centro financeiro de Manhattan, Nova Iorque, um dia antes do Dia Internacional da Mulher.
A escultura tem 1,3 metros de altura e pesa cerca de 110 quilos, muito pouco para os 3,4 metros de altura, 4,9 metros de comprimento e 3.200 quilos de peso do famoso touro de Wall Street. E trouxe consigo uma mensagem curta:“Know the power of women in leadership. SHE makes a difference”.
Uma mensagem com duplo significado para quem trabalha na bolsa e sabe que SHE, além da óbvia referência às mulheres, é também é o nome de um fundo que se estreou um ano antes, que inclui um benchmark de empresas que promovem a igualdade de género e que conta com mais mulheres em cargos de liderança do que os seus pares. Todas as empresas incluídas neste fundo devem ter pelo menos uma mulher no conselho de administração ou na posição de CEO.
A verdade é que o fundo tem sido um sucesso. Com um excelente trabalho de marketing por trás é certo, mas também com nomes de grandes marcas como Pfizer ou Pepsi. A destemida Fearless Girl foi, para mim, uma das mais geniais ações de marketing de 2017, e passa para 2018 e todos os anos que ainda estão para vir um grande desafio: o de colocar as mulheres ao lado dos homens na capacidade de liderança.
Sou assumidamente feminista, não por defender uma paridade obrigatória ou imposta, mas por acreditar e defender aquilo que o feminismo é: um movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens. Tão-só isto.
Algumas mulheres criticaram a estátua como sendo um “feminismo corporativo” que viola os seus próprios princípios feministas, outras por ser uma criança e não uma mulher, e outras ainda por ser um golpe publicitário de mestre. Até o próprio autor da escultura do Touro de Wall Street pediu que fosse removida, argumentando que a peça explora o seu trabalho para fins comerciais e altera a perceção do touro.
A polémica foi tal e levantou tanta poeira que a empresa de investimentos que encomendou a escultura da Fearless Girl foi acusada de discriminação nos salários e acabou por ter de pagar uma indemnização aos seus funcionários.
Esta menina destemida não está lá para agradar a todos ou a todas, e nem sabemos por quanto tempo permanecerá no local. Inicialmente, recebeu uma autorização para ficar durante um mês, prazo mais tarde alargado até fevereiro de 2018, mas já corre uma petição para que fique ali permanentemente.
Aconteça o que acontecer, o sentimento que despertou em todo o mundo merece um aplauso. E são exemplos destes que as marcas devem seguir, assumindo publicamente uma posição sobre princípios que valem a pena e que podem traduzir-se em mais benefícios do que riscos.
No Festival de Publicidade de Cannes de 2017, Fearless Girl ganhou três Grandes Prêmios, três leões de ouro, um feito raro. É hoje mais fotografada pelos turistas que visitam Nova Iorque do que o grande Touro. Eu própria, numa viagem recente, dispensei o Touro, mas esperei para fazer uma fotografia com ela.
No final vale sempre a pena ser destemido. Força marcas!