Marcelo Rebelo de Sousa está a forçar o seu regresso ao centro político, como fiel da balança de um quadro político fragmentado, utilizando como ferramenta o Orçamento do Estado para o próximo ano, dependente de um acordo parlamentar que a coligação PSD/CDS-PP tem de encontrar e que ainda não se vislumbra.
Primeiro, declarações sobre a importância fundamental de existência de um OE em vigor, por causa do cumprimento do previsto PRR, claro. Declarou-se convicto de que haverá uma lei aprovada e pediu bom senso aos partidos – ao PSD e ao PS, entenda-se – nas negociações.
Depois, pressionou os intervenientes com a marcação de duas reuniões consecutivas do Conselho de Estado; a primeira, a 10 dias de ser conhecida a proposta de OE2025, para avaliar a situação económica e financeira, nacional e internacional; a segunda, a seguir à apresentação da proposta, depois de os conselheiros a terem analisado e de terem tido nota das reações.
Finalmente, a ameaça, anónima, de que sem um orçamento aprovado voltará a dissolver a Assembleia da República e obrigará a novas legislativas, como fez em 2021, quando a geringonça se esboroou, permitindo a que António Costa conquistasse a maioria absoluta.
Tentando recuperar protagonismo depois de uma série de casos e de declarações infelizes, com o “caso das gémeas” à cabeça, o Orçamento do Estado é, de novo, o veículo do regresso de Marcelo Rebelo de Sousa ao centro do palco, como o mediador, tentando aparecer como o adulto na sala, convicto de que a estabilidade política é um valor em si e que o mínimo para que se seja considerada é um orçamento que escude a sociedade de solavancos.
Só que a própria procura por estabilidade está a ser um foco de instabilidade e arriscamos a perdermo-nos numa campanha eleitoral permanente.