A segunda lei da termodinâmica declara que a quantidade de entropia de qualquer sistema isolado tende a aumentar com o tempo, até alcançar um valor máximo. O que significa que um sistema fechado – qualquer que ele seja – que não recebe energia do exterior nem comunica com o que está fora dele próprio verá inevitavelmente crescer a sua própria entropia (no sentido de desordem). Ou seja: todos os sistemas tendem naturalmente para a desordem, para a degradação, para a perda de valor e de utilidade e, por isso, apenas a intervenção exterior poderá reverter esse crescimento de entropia. Uma casa sem manutenção degradar-se-á até se transformar em ruínas. Um ser vivo envelhece e sem alimentação morrerá. Um barco sem timoneiro encalhará ou pior do que isso.
A segunda lei da termodinâmica, que goza de uma reputação inigualável no mundo físico-químico e no mundo natural pode, na verdade, ser transposta para o mundo social e político. Tal como foi já usada como argumento para demonstrar cientificamente(!) a existência de Deus e a tese criacionista da origem do Universo, pode também ser utilizada para explicar que um Governo auto-suficiente e independente dos demais sistemas auto-fomenta a entropia e tende inexoravelmente para a decadência. A blindagem do porta-aviões geringonça, burilada com denodo e conservada com devoção pelo PS de António Costa, por Jerónimo de Sousa e por Catarina Martins revelar-se-á, afinal, demasiado pesada para a capacidade da embarcação.
Os ministros são imunes às críticas da oposição e da sociedade, o primeiro-ministro despreza os sinais e as mensagens das instituições internacionais e a comunicação social assobia para o lado. Enquanto isso, o Governo permite-se continuar a sua travessia, impávido e incólume, mesmo levando a bordo membros inexistentes (como é o caso da inédita pasta sem ministro da Economia, que seria supostamente Manuel Caldeira Cabral) ou dilacerados pela exposição da sua inabilidade para lidar competentemente com “factos alternativos”, como fez e continua a fazer Mário Centeno na novela CGD/António Domingues. Este contexto de isolamento total do exterior do Governo, a que o Presidente da República tem consistentemente dado o seu aval activo e empenhado, ao abster-se de críticas (a bem da estabilidade) e ao envolver-se na defesa quase militante (a mal do princípio da separação de poderes), provará ser o pior inimigo do sistema.
Existem muitas formulações leigas da segunda lei da termodinâmica – os pessimistas é que têm razão, do pó vieste e ao pó voltarás, ou a mais colorida “shit happens”. A minha preferida, que aplico também à geringonça, é esta: isto da vida um dia acaba mal.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.