Os portugueses reelegeram Marcelo Rebelo de Sousa para que o Chefe de Estado tenha uma postura elevada supra partes, totalmente apostado e firme em contribuir para a resolução dos problemas e não para criar ruído ou agravar uma crise política, que culminará na dissolução do Parlamento e na convocação de eleições legislativas antecipadas.
Ora, o que fez Marcelo perante o cenário da rejeição do Orçamento do Estado para 2022? Avisou, mas falou demais. Explicou as consequências, mas procurou monopolizar as atenções. Interveio, mas excedeu-se ao intrometer-se deliberadamente na vida interna do principal partido de oposição, o PSD que, por acaso, é o seu e do qual também já foi presidente.
O que move Marcelo Rebelo de Sousa? Será a sua hipocondria a crises políticas? Será o querer dar-se com Deus e o diabo no segundo mandato e passar ao lado de uma crise económica e social, a que se junta uma crise política, depois ter andado 2162 dias ao colo com a geringonça?
Marcelo quis receber, em audiência, Paulo Rangel, para arremessar um torpedo a Rui Rio. Disparou o projétil a partir de Belém e colocou em toda a sua carga o ingrediente mais nocivo do ser humano, o ódio, o ódio visceral a Rui Rio.
Marcelo interfere, mina, estica a corda dos poderes constitucionais de um regime, mas que por estes dias está distorcido e rendido aos poderes inovadores do presidencialismo hard by Marcelo. Deveria ser um garante do “regular funcionamento das instituições democráticas”, todavia comporta-se como o menino que outrora tocava nas campainhas dos vizinhos. É o político que ainda não despiu a farda de comentador e procede como um agente desestabilizador da Nação e do PSD.
Para o constatar, bastará aguardar pelo calendário eleitoral que seguramente irá favorecer Paulo Rangel…!
Na verdade, Marcelo adora tricô político com todas as cores. O sabor da intriga, da conspiração e da zombaria estão-lhe no sangue.
Neste pântano, encharca-se com a complacência dos jornalistas. Por algum motivo, dispensou os serviços do seu assessor de Imprensa, e é o único Presidente sem qualquer profissional para as relações com os meios de comunicação social, porque recusa intermediários. Citando Pacheco Pereira, “os jornalistas babam-se” por Marcelo Rebelo de Sousa. Ele é o emissor, o meio e a mensagem, one-man show, mesmo que tudo corra mal.
No discurso da sessão solene dos 47 anos do 25 de Abril, Marcelo garantia: “Não há, nunca houve um Portugal perfeito. Como não há, nunca houve um Portugal condenado”. Estamos de acordo com a primeira parte. Portugal nunca será um país perfeito, mas com estes comportamentos infantis e venenosos vindos do Presidente, a República bem pode dispensar os seus inimigos.
Marcelo deveria ser Presidente da República e não sai bem da fotografia. Age como chefe de fação, como guerrilheiro. É uma pena que tanto talento político sucumba no momento em que Portugal exige um Estadista. Saímos de uma pandemia e voltamos ao pântano – com o beneplácito do atual Presidente da República.