Embora as eleições presidenciais sejam, infelizmente, desvalorizadas pelos portugueses, como se comprova pelos habituais elevados níveis de abstenção e por um certo afastamento dos eleitores, nem por isso a eleição do Presidente da Republica deixará de ter um papel crucial nos próximos tempos.

O recente Conselho Nacional do CDS-PP, no qual participei, votou favoravelmente, por maioria absoluta, a proposta do presidente do partido, em apoiar a recandidatura do actual Presidente da República. O presidente do partido,  Dr. Francisco Rodrigues dos Santos, esteve muito bem ao apresentar e fundamentar uma proposta clara de apoio à referida recandidatura.

Naturalmente, face a alguns episódios políticos criados pelo governo ao longo dos últimos cinco anos, nem sempre pude concordar com algumas posições do Palácio de Belém, mas globalmente o mandato foi francamente positivo.

Uma das críticas mais frequentes que ouvi, de militantes do CDS-PP, foi como pode o CDS-PP apoiar um candidato que o Primeiro-ministro António Costa e alguma Esquerda também apoia. António Costa sabia que não tinha argumentos e muito menos quaisquer candidatos para enfrentar Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) e numa jogada de superior inteligência política e tacticismo, soube “resolver” o problema no devido tempo, por antecipação, quando ninguém esperava o seu apoio a MRS.

António Costa declarou precocemente o apoio a MRS, na célebre visita à Autoeuropa em Maio de 2020 e com aquela  declaração politica marcou definitivamente a agenda política sobre as presidenciais e esvaziou o debate interno no PS, condicionando-o, obrigando os candidatos da esfera socialista e da Esquerda a resignarem-se com este facto político consumado.

Outra das críticas frequentes, prende-se com o eventual alinhamento de MRS com o governo PS. Ora, não compete a MRS fazer oposição ao governo. Esse papel é exclusivamente dos partidos da oposição.

Esperar que MRS tenha um papel activo de firme oposição, aproveitando cada “deslize” do governo para o fragilizar é obviamente voltar atrás na evolução da nossa democracia. Se o governo cair por falta de apoio parlamentar, reprovação de um Orçamento de Estado rectificativo ou simplesmente por esgotamento das suas soluções políticas, que evidentemente já mostra sinais de elevado desgaste ao manter teimosamente alguns ministros muito fragilizados, é salutar e prudente que o PR não se envolva. Não compete ao PR envolver-se na luta política directa. Até porque a vitimização pós-demissão do governo não pode jamais arrastar o PR.

Face às dificuldades económicas e sociais que Portugal atravessa e vai continuar a atravessar, MRS é o único interlocutor capaz de estabelecer “pontes”, estreitar o diálogo entre os partidos e gerir com inteligência e sobriedade o difícil equilíbrio entre as forças políticas que actualmente apoiam o PS.

No tocante à crescente ameaça do populismo, MRS é o único candidato presidencial capaz de o travar, porque compreende a sua origem e sabe desmontá-lo com argumentos racionais e claros, como aliás disso deu prova no recente debate televisivo. Ao contrário da candidata Ana Gomes, que alimenta o Chega com as suas ameaças de ilegalização. A separação de poderes vigente em Portugal obriga o PR a não se imiscuir no papel dos tribunais.  Se o Tribunal Constitucional permite a existência do Chega, há que respeitar, sem prejuízo do combate politico às ideias do populismo personificado pelo Chega.

Compreendo bem os eleitores do Chega, que veem em André Ventura o campeão dos decibéis, o baluarte da resolução imediata de todas as injustiças sociais e problemas do país, cativados por um discurso vago, do ponto de vista económico, sem consistência, apesar de aglutinador de muitos descontentes, de todo o espectro politico nacional, que deixaram de se rever nos partidos que tradicionalmente representavam a direita (PSD e CDS-PP) e até alguma esquerda.

Os próximos tempos serão extraordinariamente difíceis e complexos para as famílias e empresas. A resistência à progressiva contracção económica tem limites e os subsequentes impactos negativos, económicos, sociais e políticos, tornam ainda mais exigente o papel moderador do PR. MRS é o único candidato preparado, consciente das dificuldades que nos esperam a todos e que pode fazer do Palácio de Belém um farol de confiança, esperança e inteligência política.

Pela razões supra expostas, no próximo dia 24, vou votar convictamente em Marcelo Rebelo de Sousa. Porque é o candidato que melhor representa a direita conservadora, moderada e democrática.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.