No passado sábado foram realizadas manifestações a favor da ciência em cidades de vários países do mundo. Esta “marcha pela ciência” foi impulsionada originalmente por cientistas norte-americanos, em reação ao anunciado corte federal da Administração de Donald Trump em vários domínios do conhecimento e da investigação científica. Contudo, ao contrário das razões que estiveram por detrás dos cortes na ciência em alguns países europeus nos últimos anos, como em Portugal (políticas de austeridade, marcadamente ideológicas), o que está a acontecer nos EUA tem por detrás motivações pouco claras.

Estas manifestações constituem posições de protesto de quem trabalha em ciência, em relação às dúvidas e tentativa de descredibilização de Trump sobre evidências científicas, nomeadamente em áreas como as alterações climáticas, a saúde ou as energias. A questão não é tanto o facto de o discurso e narrativas de Trump (e de quem o rodeia) pretenderem colocar em causa a “verdade” científica, mas sim de o pretenderem fazer com base em opiniões sem qualquer base credível de sustentação. Ou seja, longe de se utilizar o método científico para testar e refutar hipóteses sobre determinado assunto, recorre-se a crenças ou pensamentos que parecem ter por detrás interesses perigosamente obscuros.

É, por isso, natural e necessário que se tente travar a construção de narrativas ficcionadas, apelidadas de “factos alternativos”. É, também, necessário compreender as razões para que este tipo de discurso (e de estratégia) está a ter sucesso em pleno século XXI, em que o analfabetismo é residual nos EUA (e na maioria dos países ocidentais) e há facilidade no acesso à informação e ao conhecimento. Pelo menos em alguns segmentos da população, os “factos alternativos” têm aceitação – e não é só junto de pessoas mais iletradas, com menos escolaridade e qualificações, mas também (embora em menor número) em pessoas com níveis superiores de qualificações.

O sucesso da ciência nos últimos quatro séculos é visível e não pode ser negado. Tem sido extraordinário o seu contributo para o progresso tecnológico e o desenvolvimento económico e social. Além disso, tem ajudado a clarificar e a dar resposta a mitos e crenças que moldaram o ser humano durante milhares de anos (e cujos resquícios ainda persistem…). Não podemos, por isso, regredir. A apologia da ciência e do conhecimento deve ser uma missão de todos, a cada momento, transversal a ideologias políticas ou à sociedade. É, por isso, fundamental, o “instrumento” da educação e do sistema de ensino para a promoção de uma cultura científica e tecnológica, que divulgue a evidência científica e promova o conhecimento. E, neste aspeto, Portugal está no bom caminho.