“Ó subalimentados do sonho! a poesia é para comer”, escreveu Natália Correia em Defesa do Poeta. E nós furtamos a imagem e carregamos nas tintas: a música de Maria João é para devorar. Sem pressa, sonhando acordados. Ou vorazmente, num frisson hipnótico. Tudo isto e mais nos proporciona o seu calor e irreverência, o improviso que vira língua, sonoridades mestiças que nos enleiam e convidam o corpo a mexer, bambolear, saracotear, menear. A menina que chegou “tarde” à música está prestes a lançar um novo álbum, que é mais do que isso. É uma celebração da “Abundância” que tem sido a sua vivência e 40 anos de carreira. É Maria João tout court, sem apelidos, sem outro cartão de visita que não seja a plasticidade da sua voz.
Mas nem sempre foi assim. E como tudo tem um princípio, convocamos a memória. A dela, da cantora. “Pensei em ser psicóloga, e depois advogada, e depois… Mas o que eu queria muito, como praticava aikido, era ser professora de aikido”, conta Maria João ao Jornal Económico. É cinturão negro e chegou a exercitar o soco em miúda, quando sofria bullying nos colégios onde andou. Cinco no total. Expulsa ou convidada a sair por bater nos miúdos que lhe chamavam “caixa de óculos”.
“Passei alguns maus bocados… Tinha 10 aninhos e tinha tudo o que era necessário para sofrer bullying, porque não sou 100% branca, era gordinha e usava óculos, portanto, estas três coisas juntas eram terríveis. O que é que eu podia fazer? Ou ia queixar-me, ou batia neles. Portanto, arranjei forças e dava-lhes uma tareia! Aquela menina fortaleceu-se desta maneira”. [risos]
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