Factos são factos. Num país onde pululam ignorantes e ESPONS (Especialistas em Porra Nenhuma) nas televisões, onde advogados comentam o Afeganistão mas também renda de bilros, ou professoras de economia que nunca geriram nada na vida, pois se o fizessem levariam qualquer papelaria ou mercearia à falência, falam de política como se soubessem alguma coisa do que vão perorar para canais pagos por todos nós, não posso deixar de dizer com orgulho (desculpem a imodéstia) que a primeira pessoa a apontar Mariana Vieira da Silva como possível sucessora de António Costa foi este colunista que aqui estão a ler no Expresso da Meia-Noite, na SiC Notícias, em Junho.

Tal como referi no podcast do qual sou autor com o Jornal Económico (JE), “Maquiavel para Principiantes”, os portugueses estão a fugir dos programas de comentário televisivo, onde deparam (com honrosas excepções) com ignorantes e ESPONS, para outras plataformas onde podem ver e ouvir analistas que respeitam e sabem do que estão a falar. É uma tendência geral de consumo informativo que não é só portuguesa.

Por isso, quando vi a manchete do JE e uma página do “Expresso” da semana passada a darem força a essa tese que defendi há meses, decidi acrescentar estas linhas. A verdade é que Costa não estava tranquilo com os dois nomes mais fortes para lhe sucederem.

Com Pedro Nuno Santos há muito que são visíveis brechas no relacionamento entre ambos e a maneira como tem conduzido alguns dossiers (TAP principalmente) revela algum extremismo ideológico que não se coaduna com um partido que para ganhar não pode hostilizar o centro moderado do eleitorado.

Ana Catarina Mendes, por outro lado, tem o controlo do aparelho, sucedeu-lhe num programa televisivo onde surge como comissária política do Governo mas não tem experiência governativa. Além do mais, o último líder parlamentar que saltou para candidato a dirigente máximo de um partido, como é sabido, não correu bem. Falo de Luís Montenegro, naturalmente

Alguém escreveu que o acaso é o pseudónimo que Deus utiliza quando não quer assinar. Eu não acredito em acasos e no PS a entidade divina é António Costa, que conseguiu que os três primeiros nomes da hierarquia do Executivo fossem todos de férias ao mesmo tempo, deixando o seu actual braço-direito, Mariana Vieira da Silva, como líder até ao fim de Agosto e em pleno congresso que decorre a partir de amanhã.

Ao JE, a ministra de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros disse: “É inevitável que o PS venha a ter uma secretária-geral”. Assim acontecerá sem dúvida num futuro próximo. Costa já foi peremptório ao afirmar que não interferirá na sucessão nem designará herdeiros. Contudo, todos se lembram de como, atempadamente, desenhou Fernando Medina como sucessor na Câmara de Lisboa.

Agora, pode fazer um esboço para o país e os traços mais firmes e salientes constroem o retrato de Mariana. Como referia Bismarck, “a política não se faz com discursos, festas populares e canções, ela faz-se com sangue e ferro”. Vamos ver se a socióloga de 43 anos tem a força vital para vestir a armadura e partir para o combate.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.