Nesta época do ano somos inundados por ternurentos e comoventes anúncios de Natal. Não conseguimos deixar de escapar uma lágrima quando vemos a publicidade de uma determinada operadora que, num rasgo de criatividade, se lembra dos mais velhos e lhes rende uma homenagem associada ao amor. Alguns podem ter a tendência de criticar estes clips publicitários, apelidando-os de “lamechas” ou “piegas”. Outros apontam o dedo ao “mundo da fantasia”, enganoso e escarafunchador das vulnerabilidades dos mais fracos.

Da minha parte, assumo, preciso desse universo, alternativo àquele em que vivo. Preciso de saber que existe um planeta, ainda que virtual, onde há maneiras, sentimentos e, sobretudo, valores. Prefiro os valores às ideias. Prefiro a educação às ideologias. Acho mais importante respeitar a existência de várias religiões do que debruçar-me sobre as ideias de abolir este ou aquele símbolo nas escolas, ou o uso desta ou daquela indumentária nos espaços públicos. Relevo mais que sejam dadas às mulheres oportunidades profissionais idênticas às dos homens do que mudar a designação masculina do meu documento de identificação. Prefiro continuar a poder utilizar casas de banho onde, em princípio, só vou encontrar mulheres. Entendo que é melhor ser “pró-qualquer-coisa”, do que “anti-tudo-e-todos”.

A visita dos Reis de Espanha a Portugal, mais do que estreitar os laços entre os dois países, promover protocolos, incentivar o entrosamento das duas economias, esmiuçar o guarda-roupa da Rainha, parar o trânsito, promover gaffes protocolares e tirar o mofo ao Rolls Royce presidencial de 1960… mostrou a grandeza de uns e a pequenez de outros. Marcelo surgiu triunfante, exemplar anfitrião, sempre sorridente e desdobrado em simpatias e afetos, tanto à realeza como à plebe. Costa, do mesmo modo, lançou mão do seu charme natural para fazer o que se impunha, receber condignamente o Chefe de Estado estrangeiro de visita ao nosso país. O PCP levantou-se no hemiciclo no final do discurso de Filipe VI, em sinal de respeito, mas absteve-se da performance dos aplausos. O Bloco de Esquerda não só não aplaudiu como não se levantou e não participou na sessão de cumprimentos aos reis.

Numa espécie de ante estreia das cerimónias do 1º de dezembro, o rebanho de Catarina Martins deu corpo à máxima “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”. O partido de todas as causas, das igualdades, das tolerâncias, da defesa dos oprimidos e das oportunidades para todos… deixou cair o véu. O Bloco revelou-se. Com uma singela e infantil atitude mostrou como ainda se move no Portugal dos pequeninos. Provou porque não está à altura de chegar sozinho a um lugar onde as atitudes contam. Onde contam, sobretudo, as atitudes. Demonstrou não ser conhecedor da diplomacia, a principal ferramenta dos Estados. Vale-lhes Costa, que vai conseguindo olear com mestria uma geringonça emperrada por deputados altivos que se dizem humildes, egos presunçosos que colocam a sua “coisa íntima” à frente da “coisa pública”.

Restam-me os anúncios de Natal e o bombeiro que, ainda convalescente, adotou e acarinha a gata que resgatou de um poço e que quase lhe custou a vida. Reservo-me o direito de aplaudir os intervenientes do futebol que, para além das mensagens de condolências, materializam soluções para que o clube brasileiro Chapecoense possa, efetivamente, voltar ao ativo após a tragédia ocorrida com o fatídico acidente de avião que vitimou mortalmente quase toda a sua equipa.

Permito-me levantar-me, mas em protesto, pela atitude de um partido – que acontece apoiar o Governo, mas não consegue abandonar a sensação de ser da oposição – que parece sofrer de um certo “ressabiamento social” e que se especializou na arte de apontar o dedo aos outros, esquecendo-se que está cada vez mais longe de ser exemplar. No que respeita ao PAN, que também não se levantou (embora tenha aplaudido) no final do discurso do Rei de Espanha, já conversei com os meus gatos que tampouco entendem a atitude e pretendem fazer uma “vaia de miaus”.

Numa lógica diferente, o PSD que, sublinhe-se, aplaudiu o Chefe de Estado Espanhol, esteve ausente da restauração do feriado da Restauração: agoniados que andam com o casamento de Marcelo com Costa, será uma maneira de os sociais-democratas dizerem que querem substituir o Presidente da República pelo Rei de Castela ou apenas um amuo do “mal-educado-bom-aluno”?