Mateus e Matilde não são apenas nomes de baptismo. Na verdade, todos somos Mateus ou Matildes, ou ambos, dependendo das situações.
Falo-vos do Efeito de Mateus e do Efeito de Matilde. Mais concretamente, da ideia de que, no primeiro, exista a acumulação de vantagens ou de desvantagens (por exemplo, se se é rico acumula-se mais riqueza, e se se é pobre mais pobreza se lhe segue); e o segundo acerca de um preconceito relativamente ao trabalho das mulheres, especialmente em ciência, quando comparadas com os seus colegas masculinos: um homem que tenha realizado uma certa tarefa idêntica à desempenhada por uma mulher, terá sempre mais reconhecimento do que ela; idêntica explicação é dada para trabalho avançado por investigadores mais juniores (não reconhecidos) e mais seniores (já reconhecidos).
A história, origem, autores e as especificações de ambos os conceitos são facilmente encontrados em qualquer pesquisa na internet, pelo que não me prolongarei nesses aspectos. Contudo, estas ideias relativas a uma certa justiça – quer de situações quer de resultados – é merecedora de reflexão.
Assim, gostaria de vos falar das desigualdades óbvias, visíveis, do dia-a-dia, e faço-o a partir de uma perspectiva mais geral, e das desigualdades mais subtis, talvez mais diferenciadoras e talvez até mais determinantes.
Há no mundo desigualdades claras. Somos todos diferentes: os países, a geografia, as instituições, as regiões, as pessoas, etc. Há quem acredite, ideologicamente, que não são as condições da “casa de partida” que interessam porque o que interessa é a iniciativa e o trabalho; e há quem pense o oposto e ainda há vários graus entre um ponto e o outro. Há quem tenha imensos recursos e há quem faça imenso com isso, e há quem tenha muito ou pouco e nada faça, e há ainda quem consiga muito do pouco. Normalmente conhecem-se estes casos de sucesso, afinal são as “excepções à regra” e logo bastante raros. As combinações de realidades são, essencialmente, infinitas.
A realidade em que se “dá mais a quem já tem” é difícil de ultrapassar num país em que as elites, como em Portugal, mudam pouco ou nada de fisionomia. Esta falta de mutabilidade faz perdurar aqueles que têm mais meios, mais capital social (diga-se redes) ou, também, interessantemente, aqueles que “vindos do nada ou do pouco”, sendo superiormente trafulhas, pensam que chegam aos altares de uma certa elite. Enganam-se.
Os dizeres populares bem nos ensinam estas lições, como num dia de sol em que as nuvens se envergonham e se consegue ver bem o horizonte: não se deve “pedir a quem pediu, nem servir a quem serviu” e há razões para isso, e também não é menos verdade que “ovelhinha mansa mama na sua teta e na do vizinho”, pelo menos até ao dia em que é descoberta.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.