As eleições legislativas antecipadas em Espanha continuam sem produzir um governo e, quando o conseguirem, é provável que não venha a ser estável. Por isso, poderemos ter novas eleições dentro de não muitos meses.

Este impasse ocorre no semestre em que este Estado Membro ocupa a presidência da União Europeia (UE), o que é algo que retira sempre algum foco na política doméstica. Neste momento, é mais provável termos o inverso: um executivo que não tem condições para se empenhar nos dossiers comunitários e se irá focar em garantir um resultado mais esclarecedor e promissor na próxima consulta eleitoral.

No plano interno de Espanha, a incerteza política deverá adiar algumas decisões de consumo e, sobretudo, de investimento, até porque algumas destas dependem de condições negociadas com o governo. Para os investidores, faz sentido esperar alguns meses antes de se comprometerem por vários anos.

Para além disso, outro dos elementos-chave do investimento, o financiamento, está envolto na incerteza das taxas de juro, que tanto poderão estar próximas do ponto de viragem (as de médio prazo) como poderão estar a caminho de novos máximos. Finalmente, o risco de recessão na zona euro e em Espanha continua presente, com o concomitante enfraquecimento da procura e redução das necessidades de expandir a capacidade produtiva.

Ou seja, os resultados inconclusivos eleitorais só vieram agravar um cenário que já se si não era muito favorável ao investimento e ao crescimento.

Como principal destino de exportações portuguesas e um dos principais mercados emissores de turistas estamos dependentes da evolução da economia vizinha e ficámos, assim, numa posição mais frágil.

O próprio PIB português, depois de um início do ano fulgurante, muito melhor do que o esperado, estancou subitamente no segundo trimestre, com uma variação nula em cadeia, muito pior do que o esperado. É certo que a surpresa (positiva) do primeiro trimestre foi mais intensa do que a (negativa) do segundo, pelo que a expectativa permanece mais favorável do que no princípio do ano. No entanto, os optimismos precoces do governo e do Banco de Portugal parecem agora longe de se puderem concretizar, sobretudo se considerarmos os impactos de Espanha.

Para além disso, os dados preliminares do terceiro trimestre para a zona euro têm-se mostrado negativos, tal como para Portugal. Em resumo, já estávamos numa posição desfavorável e teremos efeitos negativos adicionais de Espanha.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.