O actual Governo continua a sua reforma dos cuidados de saúde primários, dando prioridade, para esse efeito, ao alargamento da rede de Unidades de Saúde Familiar (USF). Esta abordagem, claramente inspirada no sistema inglês, foi introduzida em Portugal em 2006 pelo ministro da Saúde, António Correia de Campos. Desde então, com maior ou menor ímpeto, as USF mantiveram-se como um dos pilares da estratégia de cuidados de saúde primários dos governos posteriores.

Comparativamente aos centros de saúde, as USF introduziram um modelo de gestão e atendimento diferente e o seu objectivo passava, e ainda passa, por resolver, de forma gradual, o problema da falta de médicos de família em Portugal.

No panorama nacional, as USF foram uma pequena revolução, ao contribuir em parte para a reestruturação e a reconfiguração dos cuidados de saúde primários. As USF de modelo B, em particular, introduziram um nível de contratualização com patamares de desempenho mais exigente. Na prática, com maior autonomia de gestão, médicos, enfermeiros, administrativos e outros profissionais das USF de modelo B, atendem mais doentes e por isso têm o correspondente incentivo financeiro.

Maior eficácia e eficiência, profissionais mais motivados e mais portugueses com médico de família. Eis o resultado prático de um modelo vencedor e que, simultaneamente, liberta os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) das falsas urgências.

Como é amplamente reconhecido, apesar das queixas, os cuidados de saúde primários em Portugal estão entre os melhores a nível mundial e as USF, como salienta, por exemplo, Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, “vieram melhorar os cuidados de saúde primários”. As provas, refira-se, confirmam-no.

Mais do que desmontar fatia a fatia o SNS, como alguns desejariam, importa inovar nos modelos de organização, combater o desperdício e a ineficiência, e redesenhar processos de gestão. As USF foram na sua origem e são ainda hoje um passo nesse sentido, com evidentes ganhos para os portugueses. Maior autonomia e mais incentivos financeiros, tendo como contrapartida uma maior produtividade, sem que isso coloque em causa a qualidade dos cuidados de saúde primários.

Ter médico de família é fundamental para todos os portugueses, mesmo para aqueles que têm seguros ou subsistemas de saúde. Como já referi em artigo anterior, o SNS foi uma conquista civilizacional de que muito nos devemos orgulhar. As USF são apenas uma das diversas faces desse esforço e dessa conquista.

Por isso, é com enorme satisfação que, ciclicamente, vou lendo as notícias sobre o alargamento da rede de USF e sobre o esforço que os sucessivos governos vão fazendo no sentido de reforçar o investimento que lhe está subjacente. A aposta no SNS é um imperativo de saúde, mas também moral. O nosso SNS, de todos, incluindo daqueles que beneficiam complementarmente de subsistemas de saúde.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.