Em 1994, Lisboa foi a Capital Europeia da Cultura. Em 2020, Lisboa foi Capital Europeia Verde. Este ano, Lisboa é a Capital Europeia do Desporto. Porém, na última década, Lisboa foi a Capital Europeia da Bufaria! E tudo graças à ação ou omissão dos seus autarcas socialistas. António Costa primeiro e Fernando Medina depois.
Fernando Medina quando soube o que se passava com a cedência dos dados dos protestantes e ativistas, invocou e deturpou uma lei que obriga ao envio de dados às embaixadas. E tentou encobrir o primeiro-ministro, seu antecessor, duplamente: nas entrevistas e na auditoria conhecida.
António Costa, recorde-se, reduziu o caso a um simples problema de “balcão da Câmara Municipal de Lisboa”. “Erro”, “procedimento administrativo” ou “processo burocrático” são as expressões utilizadas por todos aqueles que se refugiam no eufemismo das palavras.
Mas estes factos abomináveis põem em xeque a credibilidade da Cidade da tolerância e da liberdade.
Em entrevista ao “Telejornal”, da RTP1, no dia 10 de junho, Medina disse que só soube do caso “há poucos dias pela comunicação social”, mas entra em contradição quando afirma que, em abril de 2021, determinou uma auditoria interna.
O senhor Presidente da Câmara decidiu exonerar o responsável pela proteção de dados, um jurista, depois de se pronunciar sobre uma auditoria, que revela que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) teve a mesma atuação por 52 vezes, isto apenas desde 2018!
Cinquenta e duas vezes, há que que dizê-lo, são vezes a mais para ignorar um abuso ou desconhecer uma ilegalidade!
A sensação que fica é que a Câmara é um navio à deriva e que o seu comandante não é um líder, mas um timoneiro que procura salvar a sua própria pele.
Um líder nunca rejeita culpas, sobretudo quando a CML incorre em coimas de dezenas de milhões de euros, que segundo a Lei, podem chegar aos 80 milhões de euros por violação da Lei da Proteção de Dados Pessoais! Estamos a falar de pessoas que a República Portuguesa e a Cidade de Lisboa garantiram proteger.
Não há dúvidas que Fernando Medina se identifica mais com a desculpabilização constante de Eduardo Cabrita do que com a dignidade política de Jorge Coelho e vai persistir na tese do “delírio de oportunismo político”.
Eu falaria em incompetência crónica grosseira e bipolar, porque o que se passou é indigno de toda a tradição da Cidade, do poder local e da democracia, pelo menos desde os tempos agitados do pós-Revolução, com o Arquivo Mitrokhin, ou mais longinquamente, a Inquisição.
Medina vai ficar para a história não apenas como o autarca que entrega as chaves da Cidade, mas também como aquele que entrega as chaves da masmorra tendo metido na gaveta a lei, a Constituição e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Quem precisa de espiões quando os operacionais estão dentro do Estado?
E assim se deixa à mercê da sorte a vida, a liberdade e a segurança pessoal de homens e mulheres, mas Fernando Medina prefere salvar a pele a salvar a honra, mesmo quando atira seres humanos para o patíbulo.
A barbárie desceu à Cidade e mora nos Paços do Concelho de Lisboa!