O medo vai ser assassino para a economia, escreve Ana Sá Lopes em editorial no Público, com base em estudo de opinião pública realizado pela Universidade Católica para aquele jornal. Mais de metade dos inquiridos vai passar as férias em casa. Terá razão?

Os governantes e funcionários públicos com direito a microfone inspiraram-se no overdrive imunitário desencadeado pelo vírus em pessoas mais velhas e entraram em overdrive propagandístico. As notícias de Itália e Espanha já tinham feito a preparação da opinião pública para a calamidade que se aproximava de leste.

A teoria comunicacional da agulha hipodérmica foi aplicada com zelo desmesurado e excedeu as expectativas, porque as pessoas já se tinham preparado para o pior, tipo peste negra, e só estavam à espera que a sua expectativa fosse confirmada pela comunicação oficial.

Pleno êxito. O slogan foi repetido paternalisticamente (palavras ditas palavra a palavra, sílaba a sílaba) até à exaustão das massas temerosas. Não tenham medo de ter medo, dizem, ainda, os outdoors.

Falou-se muito em “herd immunity”, que os políticos e jornais portugueses simpaticamente traduziram por imunidade de grupo, quando de facto a expressão inglesa quer dizer imunidade de rebanho.

O espírito de rebanho, perdão, de grupo, é notável entre os portugueses. Estamos encurralados, nas nossas casas, toca de refúgio a que Ana Sá Lopes chama, carinhosamente, o nosso casulo, mais uma metáfora do mundo animal, desta vez com origem no habitat temporário de pacíficas larvas.

Agora o pânico passou do rebanho para os pastores. Saiam de casa. Comprem, seus apavorados. Não destruam a economia. Se a economia falhar a culpa é vossa, é a mensagem implícita.

Será que só quando começarmos a ver gregos, italianos e espanhóis a tomarem a iniciativa e a recuperarem a atividade económica, em particular o turismo, é que vamos furar o casulo e os vamos seguir, os últimos do rebanho europeu?

Ou será que o confinamento é apenas mais um pretexto para prolongar o nosso secular atavismo reforçado agora com a pandemia?

A campanha “Safe & Clean” dirigida aos mercados do turismo é um bom sinal. Provavelmente, esperamos desta vez tomar a dianteira.

E que tal uma campanha de recuperação da confiança dos portugueses em si mesmos? É difícil, porque teria de começar de cima, e os exemplos, as intrigas e trapalhadas que nos chegam cá abaixo não são inspiradores.

Os empresários e empreendedores portugueses, aqueles que não têm emprego no Estado, devem em primeiro lugar contar consigo mesmos, com os seus colaboradores, fornecedores, clientes, com determinação, imaginação e coragem e não ficarem à espera de eventuais apoios do Estado. Não quer dizer que não os procurem e utilizem, mas contem em primeiro lugar consigo mesmos. No tempo da troika já demonstraram que conseguem e vencem.