1. Não é fácil manter a fé na política num país como o Brasil. Michel Temer, do Partido Movimento Democrático do Brasil, assumiu no final do ano passado o poder, com a aura de antítese do Partido Trabalhista no que de pior Lula e Dilma trouxeram: um registo de corrupção sem precedentes ou que, pelo menos até ao seu tempo, não se adivinhava tão abrangente.

Se já se sabia que no Brasil a corrupção não era uma matéria do partido A ou B, Temer trouxe a certeza de uma terrível realidade: no Brasil, a corrupção é hoje institucionalizada, como um polvo em que cada tentáculo é um dos pilares económicos do país, seja público ou privado, seja qual for o setor de atividade.

De tal forma que uma operação como a Lava Jato – que de resto não investigou as ligações eventuais ao Partido de Temer – significou o fim de mais de 3 milhões de postos de trabalho entre 2015 e 2016, no setor da construção e energia. Diz-se, aliás, que a paralisação de empresas como a Petrobras foi responsável por dois terços da contração económica do Brasil nos últimos dois anos e pelo triplicar da taxa de desemprego do país. Foram lançados cinco concursos públicos para a construção de aeroportos internacionais no Brasil. Não há uma única empresa brasileira na corrida.

E por isso regressa a palavra mais ouvida no Brasil em 2016: impeachment. Lula da Silva grita por eleições no país depois de Temer ter sido apanhado numa gravação a autorizar o pagamento de um suborno a um ex-deputado. Os brasileiros, obrigados a votar, sem partidos honestos nem políticos sérios, dão poder a quem podem: ao poder judicial. Na esperança de encontrar neste a seriedade e elevação que desistiu de encontrar nos políticos. O perigo? É que o seguro de vida da democracia é a vigilância do povo sobre os governos, e o seu poder para mudá-los através das eleições ou figuras mais discutíveis como o impeachment de Dilma, que nunca se justificou do ponto de vista jurídico, apenas político. E é aqui que reside o problema. Para os governos judiciais não há seguro de vida. Não há travão nem fiscalizador. E quando assim é, não há democracia. Há ditadura.

2. Uma palavra para o outro impeachment iminente, o de Donald Trump. Ninguém quer este Presidente. Os americanos que votaram nele enganaram-se. Os que não foram votar também se enganaram quando menosprezaram o impacto do seu não voto. Se a questão da transmissão de informações à Rússia é motivo de impeachment, a questão é muito discutível e não há unanimidade. Mas este impeachment latente é eminentemente político. Os americanos não querem Trump. Mas à falta de um racional jurídico para fazer cair Trump, o atual Presidente é uma lição amarga para a democracia americana que, de 40 em 40 anos, parece ter de ser lembrada da responsabilidade que é eleger o líder da maior potência mundial.