1. Todos estaremos lembrados da forma como José Sócrates saiu do PS. Com António Costa algures em oportuna viagem, ensaiaram-se umas pequenas críticas à vergonha conhecida – num folhetim em que participaram o patriarca Carlos César e até o afilhado João Galamba. E o antigo líder, ‘indignado’ e sem querer pesar ao partido que sempre amou apesar de ter começado como militante da JSD lá na terra, bateu com a porta.

Ultrapassou-se assim a figura da expulsão, oportunamente lembrada por Manuel Maria Carrilho e Ana Gomes, que me lembre os únicos socialistas com coragem para falarem publicamente dessa inevitabilidade a considerar. O PS retirou um fardo de cima, com habilidade. Mas, em contrapartida, está a tratar muito bem dos amigos de Sócrates. O mais dedicado chegou agora a vice-presidente do Parlamento Europeu.

Claro que teve de fazer aquelas figuras tristes durante a última campanha eleitoral europeia, na qual foi bem escondido dos eleitores por motivos de decoro e vergonha, mas valeu a pena. Pedro Silva Pereira está de parabéns! Portugal continua a ser uma coutada dos diretórios dos partidos. Fazem tudo e  à vista de todos. A transparência é total. Quem disser o contrário mente.

2. Santana Lopes pôs-se a explicar as listas de deputados a apresentar pelo Aliança, e disse: “Não temos preconceitos etários. Por exemplo, no Porto, o cabeça de lista tem 35 anos e o de Lisboa, que sou eu, tem 63 anos. O de Setúbal tem 53 anos. Têm de ser é pessoas capazes e com a vida profissional própria, que não dependam da vida política para as suas famílias viverem. Isso não queremos”.

É de esfregar os olhos várias vezes! Então Santana Lopes, que tem passado a vida na política, em Lisboa, na Figueira da Foz, na Misericórdia, no governo, no qual percorreu vários cargos até primeiro-ministro por alguns dias, acha mesmo que tem um percurso profissional próprio? Onde? Quando? Estará a contar com o cargo de presidente do Sporting (escolhido e remunerado por um conjunto de empresários, com José Roquette à cabeça)? Continua a ser surpreendente a quantidade de gente na política que fala aos seus compatriotas como se eles não tivessem memória.

3. Chamar Miguel Relvas para ele dissertar sobre o futuro do PSD, sobretudo nas estruturas locais do partido, seria equiparável ao Banco de Portugal resolver convocar Oliveira e Costa para sessões públicas onde se abordasse a recuperação da banca ou as Casas do Benfica chamarem Vale e Azevedo para discutir a estratégia do clube no pós João Félix.

Pois aconteceu mais uma vez, agora em Ourém. E o notável influencer laranja, expulso do governo de Passos Coelho e desde aí em roteiro para tentar abrir caminho a um novo líder que lhe julgue ficar a dever a função, lá foi debitar as palavras que, pensa ele, hão-de permitir o regresso do velho PSD dos negócios e recomendar os necessários facilitadores.

É extraordinário e será a política. Mas é a fação descontente do PSD contra Rui Rio a mostrar que não aprendeu nada com o passado nem faz a mínima ideia da opinião que, fora dos círculos partidários, a generalidade dos portugueses têm sobre o passado político de Miguel Relvas. Mais do que falta de vergonha é autismo puro.