Este texto foi publicado originalmente no suplemento “Boletim Económico da Primavera”, que integrou o Jornal Económico de 9 de abril de 2021.

 

Há um ano não me passava pela cabeça que em abril de 2021 ainda estivéssemos a lidar com a Covid-19 e perdidos no seu controlo. Há quatro meses, com a luz ao fundo do túnel das vacinas, achei que iríamos começar a recuperar e que o caminho seria lento, mas a subir. Hoje estou bastante menos otimista. A pandemia não está controlada, a vacinação muito demorada na Europa e a luz está cada vez mais longe.

Já não me atrevo muito a adivinhar o que nos espera, mas algumas coisas parecem mais prováveis que outras. Os serviços de contacto próximo em geral, e os do turismo em particular, são os setores mais afetados. Mas acredito que também serão os que mais facilmente recuperarão. Qualquer sinal de abertura é uma oportunidade para as pessoas se sentarem num café, irem a um restaurante e respirarem um pouco de normalidade. Estou convencida que quando o confinamento passar, estes setores retomarão rápido. Claro que com muitas, muitíssimas, baixas pelo caminho. Mas a capacidade notável dos portugueses se reinventarem pode ser muito útil já que a procura nestas áreas recuperará, creio, de forma exponencial.

As empresas que mais me preocupam são as que precisam de capital ou que dependem da abertura do mundo. A recuperação aqui será mais lenta. Os investidores vão estar apreensivos. Vão precisar de estar mais certos sobre o fim da pandemia para investirem em negócios inovadores e diferentes que possam sofrer reveses se o vírus voltar. E o mundo vai demorar a abrir. A Ásia está brutalmente fechada. Sem sinais de abertura que nos façam acreditar que em 2022 a cadeia de aprovisionamento estará normalizada. A Europa continua com uma série infeliz de insucessos na vacinação sem conseguir dar provas de que rapidamente terá uma situação confortável para, pelo menos, se poder viajar cá dentro.

E em Portugal, melhor que os seus pares europeus na vacinação, nada está tranquilo! O INE revela uma redução significativa de atividade económica em 2021, com uma redução de levantamentos, pagamentos de serviços e compras com recurso a multibanco (menos 26% em fevereiro do que em janeiro). A taxa de desemprego aumentou e o emprego diminuiu.

Os recursos que estão para chegar têm que ser muito bem gastos e de forma rápida para que se possa reverter a situação. Tem que se criar um estado de emergência com situações de excecionalidade para a aplicação dos fundos. Criar um sistema de triagem semelhante à escala de Manchester, mas para a economia. Com transparência de informação e possibilidade de recurso, mas com agilidade e desburocratização para permitir que o dinheiro, os fundos e a ajuda cheguem rápido à economia.

E só com a combinação de fatores como a aceleração da vacinação, a abertura da economia, e um programa de urgência para os fundos europeus é que se poderá ter uma visão um pouco menos pessimista e acreditar que em abril de 2022 estaremos finalmente bem.

Tal como o estado de emergência, avalio o meu otimismo cada 15 dias. Esperemos que a próxima avaliação seja francamente melhor!