[weglot_switcher]

Reabilitação urbana: mercado pode crescer mais se “apontar para a classe média e jovens”

Presidente da APEMIP alerta que em Lisboa e no Porto já se “atingiram valores muito grandes em termos de venda”, num mercado que não é “infinito” e que está a ser dirigido para a classe média alta.
14 Dezembro 2019, 20h30

O mercado da reabilitação urbana “está a ser dirigido para uma classe mais média alta e isso tem sido um problema, para um setor que poderia crescer mais se fosse dirigido para a classe média, e aos jovens”. A afirmação é de Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), em declarações ao Jornal Económico.

De acordo com um comunicado do Ministério das Infraestruturas, o Instrumento Financeiro de Realização e Revitalização Urbanas (IFRRU2020), criado no âmbito do Portugal 2020, já atingiu os 500 milhões de euros em investimento com 164 projetos, 70 dos quais para uso habitacional, 86 para atividades económicas e oito para equipamentos de utilização coletiva e na área social. Este investimento vai permitir reabilitar 770 habitações, fixar 995 novos residentes, além da reabilitação dos edifícios permitir a criação de 2.684 postos de trabalho.

“A reabilitação urbana passou a ter uma dimensão bastante grande nos últimos sete, oito anos. Vê-se a olho nú nas nossas cidades e hoje em dia já não é apenas em Lisboa e no Porto, também se vê em Viseu, Coimbra, Aveiro, Braga, Guimarães, Faro”, refere o responsável da APEMIP.

O presidente da associação alerta, no entanto, para o facto de se estar “a atingir um ponto em que não se pode crescer muito, porque existem zonas de reabilitação urbana, concretamente em Lisboa e Porto, onde se atingiram valores muito grandes em termos de venda e o mercado aí não é infinito”.

Em relação ao mercado da reabilitação urbana em 2020, o líder da APEMIP acredita que “não haverá crescimento, embora em algumas zonas já esteja a existir uma baixa de preços”, frisando que “se os preços descerem mais um pouco podemos tentar arranjar outro tipo de clientes”, e avisando que “as pessoas não podem pensar que o chamado mercado alto é infinito, não é”, sublinhando que “neste momento temos procura, mas não temos ativos”, dado que “não há uma convergência de preços entre a procura e a oferta”.

 

“Há 10 anos ninguém queria viver em Lisboa”
Questionado sobre quem tem investido mais na área da reabilitação urbana, Luís Lima revela que são principalmente estrangeiros, mas hoje em dia também portugueses. “É engraçado, foi preciso os estrangeiros convencerem-nos de que aquilo que nós temos é bom. Há 10 anos, Lisboa era uma cidade suja e vazia, ninguém queria viver no centro de Lisboa. Hoje é o inverso, só não vive mais gente porque os preços são elevados. Lisboa está bonita, mas também está cara”, refere.

Na opinião do responsável da APEMIP, o Governo devia aumentar a oferta, para baixar os preços, frisando que “estamos a falar de dezenas milhares de ativos em todo o país que não aparecem no mercado por várias circunstâncias”, sendo a principal “o facto de muitas vezes serem ativos de heranças de famílias, que não conseguem encontrar uma solução”. Neste caso, considera Luís Lima, “devia haver uma intervenção do Estado, que levasse esses ativos a virem para o mercado”, relembrando que “o próprio Estado tem ativos, nomeadamente hospitais e antigos edíficios das Forças Armadas que não estão a ser usados e que podem vir também para o mercado”.

O líder da APEMIP refere que “o país não se deve sujeitar a populismos e achar que já temos dinheiro a mais. As pessoas esquecem-se do que passámos com a crise e que o setor da construção e imobiliário foi o que provocou mais desemprego nos últimos anos”.

 

Taxa liberatória pode ter “repercussões terríveis no mercado”
A iniciativa das taxas liberatórias poderá agravar os impostos a muitos proprietários. No último debate quinzenal o primeiro-ministro António Costa referiu que a medida “será tomada no seu devido tempo”.

Luís Lima, considera que esta decisão do Governo “é um contrasenso”, pelo facto do arrendamento ser “uma necessidade tão grande a nível nacional, e agora vamos intervir dificultando a colocação de mais ativos no mercado”, frisa o presidente da APEMIP. E deixa o aviso: “a maneira como estão a pensar acabar com a taxa liberatória pode ter repercussões terríveis para o mercado”.

Luís Lima diz entender a intenção do Governo em fomentar rendas mais acessíveis a longo prazo. “Isso todos nós queremos”, mas tem de se intervir pela positiva, que é dar um benefício maior a quem arrendar com esses condicionalismos”. Adianta que é uma questão “nitidamente uma ideológica” dado que “não vai trazer mais receita, pelo contrário a fatia do mercado vai diminuir”.

“Se pensam que vão atingir as classes mais altas estão enganados, porque o investidor pode perfeitamente criar uma empresa”, realça.

Para Luís Lima, “o problema são as pessoas idosas, que tiraram dinheiro dos depósitos a prazo para investir no arrendamento e agora vão dizer-lhes que têm de criar uma empresa, pagar a contabilistas e criar custos de contextos”, ou seja “mais uma vez quem sofre mais é o mexilhão”.

O presidente da APEMIP refere que esta medida é uma “infeliz quebra de confiança para quem investe, mas quem nos governa é que tem de pensar nisso”.

Luís Lima não deixa, contudo, de criticar a oposição, considerando que “neste momento está calada”.

“Percebo que estão com problemas internos, mas os interesses do país têm de estar acima disso e não vejo ninguém a falar”, conclui.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.