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Mercado transacional a duas velocidades até março

Enquanto houve uma ligeira queda em número, o valor das operações de M&A aumentou significativamente no último trimestre. Assessores jurídicos e financeiros põem as fichas nos próximos meses.
23 Abril 2023, 20h00

As fusões e aquisições (M&A – Mergers & Acquisitions) estão a demorar mais tempo a serem concluídas, têm mais condicionantes externas, mas envolvem valores superiores. Os assessores financeiros e jurídicos contactados pelo Jornal Económico (JE) reconhecem que desde meados de 2022 houve um abrandamento, porém as perspetivas são, na generalidade, positivas para o resto do ano.

Aliás, logo no primeiro bimestre de 2023 se registou uma subida homóloga de 8% no capital envolvido nas operações. “É provável que apenas no final do ano se comece a sentir alguma recuperação. Sentimos os investidores com vontade e capacidade para investir, mas muito cautelosos com o momento em que o farão e em que condições. Tal como noutras regiões da Europa, também em Portugal estão à procura de oportunidades com retornos mais elevados”, antevê Igor Borrego, diretor sénior de Assessores de Capital da CBRE Portugal.

Ainda assim, Igor Borrego acredita que haverá um recuo no volume de M&A em Portugal ao longo dos segundos e terceiros trimestres. “O desencontro entre as expectativas dos compradores e as dos vendedores é também neste momento um grande desafio que procuramos acomodar através do conhecimento aprofundado do mercado e de cada dossiê”, acrescenta o responsável da consultora imobiliária.

Como foi revelado esta semana, o mercado transacional português contabilizou, no primeiro trimestre de 2023, 109 transações e movimentou 2,5 mil milhões de euros, sendo que menos de metade dos negócios (45%) teve os seus valores revelados ao mercado, de acordo a Transactional Track Record (TTR Data). Ou seja, menos 14% de negócios e mais 68% no valor dos mesmos, comparativamente a janeiro, fevereiro e março de 2022. A percentagem deverá ser significativamente superior até porque mais de metade dos valores pagos pelos compradores é confidencial.

Segundo as informações enviadas ao JE, no primeiro lugar do pódio das transações de M&A (fusões e aquisições, private equity, capital de risco e compra de ativos) em que empresas portuguesas estiveram envolvidas (como compradoras ou vendedoras) está o grupo M. Coutinho, com sede em Marco de Canaveses, com o acordo para comprar a concessionária Bomcar, das marcas do grupo BMW, e a sua subsidiária Bomrent, de rent-a-car.

Segue-se o acordo do BRB – Banco de Brasília para venda de uma participação de quase metade (49%) na BRB Loterias à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa por cerca de 52 milhões de euros. Logo depois está a ronda de financiamento de 4 milhões de euros da startup espanhola APlanet, na qual participou a EDP Ventures, bem como o centro tecnológico-industrial, JME Venture Capital, FJ Labs, All Iron Ventures, Viriditas Ventures e a Draper B1.

“Emboras altas taxas de juro tornem mais difícil o financiamento de operações clássicas de M&A, afetando sobretudo os fundos de private equity, têm surgido estruturas alternativas, tais como joint ventures, carve outs ou ainda vendor loans”, esclarece Tomás Vaz Pinto, sócio da Morais Leitão.

O coordenador do departamento de Corporate salienta ainda que há sectores que estão em contraciclo, com ânimo, entre os quais o da energia e de mercado de capitais. Nestes casos, destaca as operações da EDP e EDPR. “Estamos, por isso, moderadamente otimistas, até porque existem sinais de que as taxas de juro poderão a curto/ médio prazo estabilizar. Como tal, esperamos uma maior recuperação ainda durante 2023”, assinala o advogado.

Aliás, só o sector de private equity, um dos elementos deste mercado, continua com 3,7 mil milhões de dólares em capital disponível para investir e deverá continuar a registar um forte crescimento a longo prazo, apesar do retrocesso vivido em 2022 devido à instabilidade económica e à incerteza gerada pelo aumento da inflação e das taxas de juro, de acordo com um relatório da consultora Bain & Company.

“Não há dúvida de que o contexto atual global é de incerteza porque se, por um lado, os bancos centrais têm de agir sobre a inflação, por outro, as medidas de política monetária – que têm sido agressivas – podem ter um impacto severo nos balanços da banca e temos visto sinais de stress no sector”, começam por explicar os advogados Duarte Schmidt Lino e Diogo Perestrelo. No entanto, os dois sócios coordenadores de Corporate M&A da PLMJ consideram que existem condições para que o segundo semestre seja de recuperação (ler páginas 4 e 5), nomeadamente em Portugal.

Na opinião de Duarte Schmidt Lino e Diogo Perestrelo, a pressão para execução dos fundos do PRR é um fator relevante a ter em conta. “Alimentará, em particular, o segmento das médias empresas. Por outro lado, existe uma fatia importante de fundos nacionais e internacionais que levantaram capital e com incentivos fortes para o investir, o que animará sobretudo transações cross border”, explica a dupla de advogados de M&A da PLMJ.

Para se perceber as dimensões deste mercado na América do Norte – onde se insere a maior economia do mundo – em apenas três meses os assessores trabalharam em operações que valem quase quatro vezes mais do valor de todas as registadas em Portugal num dos melhores anos de sempre (2021). Por exemplo, o banco de investimento Centerview Partners fez assessoria financeira em transações norte-americanas de 71,7 mil milhões entre janeiro e março e a Houlihan Lokey apoiou 30 negócios, o que as fez chegar à liderança do ranking da GlobalData. Quanto aos assessores jurídicos, a Wachtell, Lipton, Rosen & Katz e a Kirkland & Ellis estão a ganhar em valor e volume na América em 2023 com 72,3 mil milhões e 107 negócios, respetivamente.

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