Como  é do conhecimento geral, os próximos meses são da maior importância para a estabilidade e, diria mesmo, sobrevivência da União Europeia e do Euro, devido, principalmente, aos acontecimentos políticos que se aproximam. Neste âmbito, assumem especial relevo as eleições presidenciais em França, pois apresentam um risco enorme de destruição de valor nos mercados financeiros e, no limite, de morte da moeda única.

A um mês de se saber quem será o novo Presidente de França, Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Frente Nacional e eurocéptica, continua com possibilidades reais de ganhar. As últimas sondagens comprovam que ela é a candidata com uma base mais sólida e estável de apoiantes. As previsões apontam para que ela atinja à volta de 25% dos votos na 1ª volta no próximo dia 23 de Abril e que seja uma dos dois candidatos com mais votos, garantindo, desta forma, a passagem à segunda volta agendada para o dia 7 de Maio. Apesar disso, as sondagens estimam, também, que na segunda volta, Marine Le Pen, com um resultado a rondar os 40%, não consiga vencer Emmanuel Macron, o outro candidato com maior probabilidade de passar à segunda volta e que concentraria maioritariamente a votação do eleitorado dos demais candidatos.

Os investidores irão tomar decisões de investimento após analisarem os resultados da primeira volta e aferirem com maior certeza qual a probabilidade real de Marine Le Pen vencer em Maio as presidenciais.

Se os resultados eleitorais forem semelhantes aos das últimas sondagens, com uma votação idêntica entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron a rondar os 25% cada, não prevejo grandes alterações nos mercados financeiros até ao dia 7 de Maio, pois já englobaram esse resultado nos preços dos activos e antecipam uma vitória do candidato da estabilidade na segunda volta.

Noutro cenário, em que o principal candidato à vitória, Macron – um jovem ex-banqueiro, claramente pró-globalização e europeísta, que tudo indica pretender estabilizar e liderar uma França mais business friendly e confirmá-la como um dos países pilar da União Europeia e da Zona Euro – consegue obter mais votos no dia 23 de Abril que Le Pen, aproximando-se idealmente dos 30%, os mercados financeiros irão reagir positivamente, com uma valorização dos mercados accionistas europeus, uma descida dos juros da dívida dos países da Zona Euro mais endividados e uma valorização do euro face aos restantes pares nos mercados cambiais.

No entanto, e num cenário contrário, se os resultados eleitorais de dia 23 apresentarem surpresas, nomeadamente se os candidatos que concentram os votos de protesto e anti- establishment, Marine Le Pen e o candidato da extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon, que nas últimas sondagens tem vindo a subir acentuadamente nas intenções de voto, obtiverem resultados acima do estimado pelas sondagens, isto é, se Le Pen ganhar com um resultado próximo ou superior a 30% e/ou Mélenchon conseguir uma votação perto dos 20%, é credivel que os mercados financeiros reajam muito negativamente, pois a probabilidade de Marine Le Pen ganhar na segunda volta aumentará consideravelmente. Neste cenário, a volatilidade nos mercados financeiros aumentará fortemente, com uma desvalorização dos mercados accionistas europeus, um aumento dos juros da dívida dos países da Zona Euro mais endividados e uma desvalorização acentuada do euro face aos restantes pares nos mercados cambiais.

Note-se que, mesmo num cenário de vitória de Marine Le Pen, que hoje parece ser pouco provável, não é muito credível que ela consiga obter apoio no Parlamento francês para implementar as medidas radicais que tem defendido na sua campanha. Na eventualidade de o conseguir, teremos certamente uma nova grande crise financeira…

O autor escreve segundo a antiga ortografia.