O acordo do Mercosul é uma boa notícia para a União Europeia e para Portugal. E é também uma mensagem de esperança para a economia mundial porque vai contribuir positivamente para o crescimento das relações económicas entre a União Europeia e os países do Mercosul.

Este acordo vai melhorar as condições de acesso aos mercados de bens, serviços e de contratação pública. Vai facilitar o investimento e promover um ambiente de concorrência mais equitativa. E vai impactar positivamente na panóplia de tarifas à importação de 91% dos bens europeus exportados para o Mercosul.

Retirar barreiras aos negócios é criar oportunidades de crescimento económico para as várias economias dos dois lados do Atlântico, o que significa gerar melhores condições de vida via maior prosperidade.

Para Portugal, este acordo também trará vantagens – seja diretamente, porque verá facilitado o acesso a um mercado de 284 milhões de consumidores, seja indiretamente, pelo incremento dos negócios que o acordo pode trazer para o espaço europeu. Vale a pena reter o número: juntos, o Mercosul e a União Europeia representam um mercado de mais de 700 milhões de consumidores.

Importa também ter presente que o acordo não opera apenas na redução de tarifas. Este acordo carrega um salto da maturidade na gestão do comércio internacional que permite desmontar outros constrangimentos ao comércio, como sejam as barreiras não pautais. Aqui falamos de simplificação ao nível de taxas de exportação, exigências de rotulagem, maior facilidade na obtenção de licenças de renovação de importações, no registo de patentes: tudo isto são elementos fundamentais no momento (e na forma) de fazer negócio.

Tal como é de destacar também o facto de o acordo prever um capítulo dedicado especificamente às pequenas e médias empresas, para abordar os seus desafios específicos. As barreiras ao comércio afetam desproporcionalmente as PME, que pela sua dimensão não têm os mesmos recursos para as ultrapassar. E por isso é muito importante, e muito positivo, que este acordo tenha a especial preocupação de aumentar a transparência dos regulamentos e de simplificar os procedimentos, para que estas empresas possam, também elas, ter acesso a mais oportunidades de crescimento.

Na economia portuguesa, o impacto positivo será muito visível na exportação de produtos industriais e agrícolas: pela via da redução de tarifas, há uma oportunidade clara para intensificar a venda de bens como a cortiça, os têxteis, os produtos químicos, os vinhos e o azeite, entre outros, para os países do Mercosul.

O aumento das exportações para países terceiros confere à economia portuguesa mais graus de independência: num mundo em constante mutação é importante diversificar os palcos de atuação das exportadoras por várias geografias.

Mas as vantagens não se ficarão somente pelas exportações. Também haverá efeitos positivos importantes na facilidade acrescida de importação de produtos fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da nossa economia. São disso exemplo as cadeias de produção dos químicos, as peles, as madeiras ou os metais.

Estas duas vias de impacto são particularmente importantes numa economia aberta ao investimento, como é Portugal. Temo-lo dito e não nos cansamos de o repetir: a prioridade tem de ser criar mais e melhores condições para aumentar o investimento: a diversificação de fornecedores é, nos dias de hoje, um ativo importante de resiliência económica.

É aqui que chegamos à segunda parte desta equação virtuosa: este acordo é uma mensagem de esperança para a economia mundial.

Uma mensagem de esperança porque, num contexto marcado por conflitos e por desconfianças de ordem vária entre os povos, riscos de recrudescimento do protecionismo e de populismos, a União Europeia e o Mercosul entendem-se.

Depois de no ano passado, o valor das restrições comerciais em todo o mundo ter mais do que triplicado, entramos em 2025 com a esperança renovada de uma maior proximidade entre estes dois blocos. É por isso que o acordo vale muito per si, mas também vale, tão ou mais, ainda pelo momento em que é anunciado.

E esta aproximação tem ainda mais força quando vemos no desenho do acordo uma agenda de comércio baseada em determinados valores. Uma agenda de defesa dos direitos laborais, do ambiente, da responsabilidade social, da segurança alimentar e também do bem-estar animal. É uma agenda que não se fica apenas pelo crescimento económico – procura um crescimento mais justo, equilibrado e inclusivo.

Saibamos por isso, neste novo ano, dar corpo à intenção de cooperação já expressa em palavras. Mais do valor económico e estratégico, este acordo comporta em si uma mensagem de entendimento e alinhamento entre povos.