Os metadados – dados que resultam da combinação de outros dados – e o seu uso para em todos os domínios da sociedade são um tema controverso. Ainda esta semana isso foi visível com a promulgação pelo Presidente da República da nova lei de acesso pelas polícias especiais em Portugal a metadados para cumprirem a sua missão. Uma medida necessária, mas que exige regulação e filtro ético. A revolução está em andamento. Ou a conduzimos num sentido de justiça e equidade ou seremos esmagados por ela.

A disponibilidade de grandes quantidades de dados e de tecnologias poderosas para os gerar, processar e formatar geram grandes oportunidades e grandes riscos. No seu mais recente livro, Homo Deus (ed. Elsinore, 2017), Yuval Harari antecipa o “dataísmo” como a religião do futuro, quando o Homem, depois de “inventar os deuses” e se “transformar no deus de si próprio”, for ultrapassado pelas tecnologias que criou à sua semelhança e sem as suas limitações.

Cito esta distopia, de leitura agradável e estimulante, como uma base para descermos à terra e percebermos que não podemos falar de redes de quinta geração, sociedade a Gigabits, internet das coisas e, ao mesmo tempo, ignorar o seu mais valioso e perigoso produto – os dados disponíveis em quantidades exponenciais e cada vez menos limitados pelas barreiras do espaço e do tempo.

Estamos no centro de um salto disruptivo da base económica, social e política do mundo em que vivemos e como em todos os momentos em que a sociedade se aproximou destes momentos mágicos de transmutação, a questão chave é saber se alguns vão usar a tecnologia para moldar o mundo aos seus interesses minoritários e egoístas, ou se a maioria a vai usar para corrigir distorções e desigualdades e fazer emergir um mundo mais humanista e sustentável.

A luta de titãs pelo controlo do uso das novas tecnologias digitais ocorre todos os dias, em todos os momentos e em todos territórios. Está tão embrenhada no nosso quotidiano que, por vezes, se transforma no novo normal e quase nos passa despercebida.

No plenário do Parlamento Europeu, que decorrerá em Estrasburgo na segunda semana de setembro, a iniciativa WIFI4EU – Internet de alta qualidade com acesso gratuito nos espaços públicos em toda a União Europeia, de que sou relator – deverá dar mais um passo decisivo para a sua aprovação final. Ainda este ano, os primeiros concursos destinados preferencialmente aos Municípios, deverão estar lançados.

Esta iniciativa piloto transporta a base genética de uma identidade digital europeia inclusiva e tecnologicamente líder. Não vale por si mas pelo que significa. Pela exigência que vai colocar na oferta de serviços de elevada qualidade e na aposta na formação generalizada dos europeus para que a revolução tecnológica sirva as pessoas e não se sirva delas.