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Miguel Farinha: “Pela primeira vez, o futebol português superou mil milhões em receitas”

Em entrevista ao JE, Miguel Farinha, CEO da EY Portugal, destaca a consolidação de quase todas as receitas associadas ao negócio futebol em Portugal e realça o facto do futebol profissional ter superado, pela primeira vez, os mil milhões de euros de receitas.
27 Março 2025, 16h05

O anuário do futebol profissional em Portugal, elaborado pela EY e Liga Portugal, mostra que o sector pagou mais impostos e contratou mais na época passada sendo que as receitas também subiram. No entanto, as verbas referentes às competições europeias desceram, o que se refletiu numa ligeira quebra no peso do futebol no PIB.

Em entrevista ao JE, Miguel Farinha, CEO da EY Portugal, destaca a consolidação de quase todas as receitas associadas ao negócio futebol em Portugal e realça o facto do futebol profissional ter superado, pela primeira vez, os mil milhões de euros de receitas. A centralização dos direitos televisivos é o desafio central para os próximos meses mas a mudança do perfil do adepto e a competitividade na Liga também deve ser encaradas como prioritárias.

Na época passada, desceu ligeiramente o peso do futebol português mas as receitas superaram pela primeira vez os mil milhões de euros.

Há uma ligeiríssima descida que está muito relacionada com o decréscimo das receitas com as competições europeias (que teve algum impacto mas marginal) mas foi muito importante registarmos a consolidação de outros indicadores: pela primeira vez, as receitas ultrapassaram os mil milhões de euros (1.073 milhões de euros), e percebemos que há aqui uma tendência constante de crescimento. Mesmo verificando o impacto no PIB, apesar da ligeira quebra, percebemos que há um crescimento acentuado nos últimos cinco anos com uma média de crescimento de 8%. O futebol profissional conseguiu reforçar o número de empregos criados, sendo que há aqui algo que é importante salientar: uma cada vez maior profissionalização das estruturas.

Nessa dinâmica, há um reforço dos impostos pagos no sector.

Sem dúvida, o pagamento de valores relativos ao IRS e Segurança aumentam por via do aumento da empregabilidade no futebol profissional.

Ainda em relação às receitas, pode-se falar de uma consolidação?

Creio que sim. Nessas receitas que ultrapassam pela primeira vez os mil milhões de euros, percebemos que todos os itens crescem com uma exceção: a receita angariada relativa à participação nas competições europeias. Sabemos que basta um clube passar aos quartos-de-final de uma Liga dos Campeões ou que chegue mais longe na Liga Europa, para que exista um impacto claro. As restantes componentes de receitas, entre as quais se destaca as transferências de jogadores (em que o futebol português está cada vez a apurar esse modelo de negócio) representa 320 milhões de euros, ou seja, 30% das receitas totais; também temos a componente audiovisual com valores muito estáveis (a temporada passada registou um ligeiro acréscimo) assim como as valores angariados com patrocínios, bilheteiras, corporate, todos estes aumentaram.

E há um aumento de espetadores que também é de assinalar.

Um dos pontos de destaque no anuário deste ano é o aumento de espetadores nos estádios em Portugal, fruto de uma campanha da Liga muito direcionada para atrair público aos recintos. Há um aumento claro das lotações dos estádios na I Liga, com os três grandes acima de 75%. Se olharmos para a II Liga, verificamos que se duplicou o número de espetadores nos estádios. Os números ainda são pequenos mas há aqui uma tendência interessante suportada numa boa mensagem: os clubes estão a conseguir atrair mais pessoas para assistir ao futebol que se pratica a nível local, para o clube da terra. Famalicão e Farense, por exemplo, estão com lotações acima de 75%.

Há um crescimento robusto das receitas, como se verifica no anuário referente à época passada.

Sim. Temos a tendência para analisar o tema dos valores em torno das transferências como algo que pode ser não recorrente, que num ano pode acontecer um determinado montante de vendas e no outro ano pode não ser bem assim. Mas nos últimos sete, oito, nove anos, o futebol português consegue estabilizar essa receita entre os 200 e os 300 milhões de euros por ano. Isso quer dizer que há cada vez maior consistência na forma como se valorizaram os futebolistas em Portugal, com três vendas acima dos 70 milhões de euros.

E o que se nota cada vez mais é que outros clubes da I Liga estão a conseguir fazer vendas mais avultadas.

Esse tema é absolutamente verdade e está associado a uma cada vez maior profissionalização dos clubes e das estruturas mas também daquilo que é a sua capacidade formadora. Hoje olhamos para clubes como o Casa Pia, Famalicão, Estoril a conseguirem colocar jogadores noutros emblemas com valores cada vez mais interessantes.

Enquanto negócio, e para além da centralização dos direitos televisivos, que desafios o futebol português vai enfrentar nos próximos anos?

O principal desafio é claramente a centralização dos direitos televisivos: como é que vai ser feita a implementação, como será a matriz de distribuição de receitas que terá de ser apresentada até ao final da próxima época. É um desafio transformacional do futebol em Portugal. Mas temos outros como a mudança do perfil do adepto, ou seja, como é que nos adaptamos a um adepto que é cada vez mais digital, como é que atraímos os adeptos mais novos e como que se vão adaptar ao tempo de transmissão de jogo (já que muitos não estão dispostos a ver noventa minutos); como é que incorporamos o futebol feminino em Portugal; temos um tema claro que está relacionado com a sobrecarga de jogos que leva a mais lesões e há aqui a necessidade de perceber como vamos proteger os clubes no sentido de que estes consigam boas receitas nas competições europeias, que podem representar 170 milhões de euros por época. Nesse aspeto, há que melhorar a competitividade dos clubes que estão do quarto classificado para baixo, no sentido de que estes consigam pontuar no ranking da UEFA.

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