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Miguel Maya: “Risco tecnológico é o maior risco da próxima crise bancária”

“A morte à burocracia do passado”, foi transversal a todos os CEO dos bancos que apresentaram os desafios da digitalização dos seus bancos.
25 Setembro 2018, 12h46

Num painel da conferência do Jornal de Negócios, que decorreu hoje em Lisboa, subordinado ao tema “A Banca do Futuro”,  em que participaram os presidentes do BCP, da CGD, do Novo Banco e do BPI, foi debatida a morte anunciada da banca tradicional e a nova era da banca digital. “A morte à burocracia do passado”, foi transversal a todos os CEO dos bancos que apresentaram os investimentos e os produtos inovadores que cada banco está a lançar.

A mudança de modelo de negócio com a redução do cost-to-income (custos versus proveitos) para níveis abaixo de 50%, é a trave mestra da passagem para a era digital dos bancos, e é consensual.

O presidente do BCP, Miguel Maya, disse que numa era digital, o grande risco é o risco tecnológico,  sobretudo para os bancos globalmente sistémicos. “O risco tecnológico [ficar sem sistema] é o maior risco de uma próxima crise do sistema financeiro”, explicou o banqueiro que diz que é nisso que o BCP está a investir.

“Facilitar a vida ao cliente” é objetivo último da transformação digital da banca por contraposição à “burocracia do passado”, defendeu o CEO do Millennium BCP.

O grande desafio do BCP é como atrair o talento para gerir e tornar estas tecnologias úteis para o cliente”, disse.

Esbater as barreiras hierárquicas tradicionais é crucial na modernização da banca, defendeu ainda Miguel Maya.

” A alma de uma organização é que é o segredo do negócio” referiu ainda.

Sobre a introdução de novos players como fintechs, a banca defende o enquadramento regulatório que permita “um level playing field“.

Por sua vez, António Ramalho disse que espera investir 80 milhões de euros na digitalização do Novo Banco, nos próximos três anos, o que “é uma condição necessária, mas não suficiente”. Porque a digitalização corresponde a duas alíneas: há a digitalização dos processos e a digitalização da oferta, o que obriga a um novo conceito de pessoas e de cultura da instituição”, disse o responsável pelo banco que recordou a contratação de um Chief Digital Officer.

O CEO do Novo Banco disse que tem aproveitado a experiência do Banco Best “para testar e aprender quais as características com uma plataforma aberta de operar clientes que trabalham sob o princípio do remoto”.

António Ramalho, do Novo Banco, lembrou que a banca “compra e vende risco”.  Esse é um papel que ainda distingue os bancos.

O presidente do Novo Banco disse ainda que “a banca universal tal como a conhecemos está morta”, por isso o foco tem de ser em competências específicas.

“O que me parece que vai acontecer é que a banca vai enquadrar parceiros em áreas menos tradicionais num mesmo ecossistema”, defendeu o banqueiro.

Já Pablo Forero defendeu que o banco que preside (BPI) tem de fornecer todos os meios, todos os pontos de acesso aos clientes. Ou seja, tem de oferecer canais digitais ao mesmo tempo que mantém os balcões físicos. O CEO do BPI, detido pelo CaixaBank, disse que a maioria dos seus clientes já estava a usar os canais digitais, “temos mais de um milhão de clientes aderentes a estes canais”.

“A nossa estratégia é claríssima, nós queremos oferecer aos clientes todos os canais de relação, seja os balcões, seja o telemóvel, seja a net, seja os call center. Nós pomos todos os canais simultaneamente à disposição dos clientes. A experiência diz-nos que os clientes estão a usar os canais de maneiras diferentes para fazer coisas distintas”, disse Forero.

O presidente do BPI anunciou que estavam a desenvolver uma aplicação que se chama GoBanking e que permite aos funcionários do banco visitar os clientes num tablet com todas as aplicações que têm e que permite fazer qualquer operação bancária através desse tablet.

O BPI GoBanking é a nova plataforma comercial do banco, que assenta num posto de trabalho híbrido, desktop e tablet. 

Com a plataforma é possível abrir novas contas em qualquer lugar, com recurso a assinatura digital biométrica, recolha de documentos e comprovativos através da câmara fotográfica dos equipamentos e captação automática de dados informativos. No final, o cliente recebe, de imediato, toda a documentação em formato digital via e-mail, assim como todos os meios de acesso à sua nova conta – o cartão BPI Electron e os acessos BPI Net e BPI App.

O presidente do BPI reconheceu ainda que as big tech  (Google, Facebook, etc) são uma ameaça para os bancos.

Para Paulo Macedo “o caminho que se está a traçar é empurrar a banca para ser um mero receptor de depósitos, porque o crédito é dado por outros players, e os meios de pagamento são dados por outras empresas financeiras. Ora isso é um modelo de negócio insustentável”.

Paulo Macedo salientou a importância que a CGD dá à inclusão digital, a par com a inovação, a eficiência digital e o negócio digital.

Relativamente à inovação, a CGD começou o percurso digital pela área de empresas. “fazemos mais de metade das nossas transações e factoring através de canais digitais. Fazemos também cerca de 40% dos créditos documentários também através do digital”, disse Paulo Macedo.

Na área de particulares lançaram este mês uma nova aplicação de homebanking para smartphone, que o presidente do banco do Estado disse ser já “a app mais descarregada da área financeira”, referindo-se ao facto de mais de 4 mil clientes terem testado a nova app do Caixadirecta. Esta questão dos particulares “é sensível para a CGD”, disse o banqueiro quer adiantou que os particulares e empresas fazem todos os dias cerca de dois milhões de transações através dos canais digitais. Desde 500 mil são de clientes particulares. “Mas temos ainda um número muito grande de transações ao balcão”, disse.

“A CGD tem os dois segmentos de clientes: os jovens universitários que abrem cerca de 40 mil contas há mais de 20/30 anos e de pois tem uma faixa de pessoas mais velhas, com mais de 65 anos. E hoje cerca de 53% de pessoas com mais 65 anos usam a internet”, disse Paulo Macedo.

O CEO da CGD anunciou ainda que “há outras áreas que ainda tem de ajustar, que tem a ver com a Caixa Geral de Aposentações, onde a CGD tem responsabilidades na gestão, e aí vamos ter notícias significativas até ao fim de 2019”, disse sem detalhar. Mas deu a entender que tem a ver com uma “melhoria dos prazos nos pedidos, com a questão das filas de espera, com a questão dos esclarecimentos”.

Na questão da inclusão digital salientou que digitalizaram a caderneta de poupança.

“A internet é igual a desintermediação”, lembrou, e por isso traduz-se em custos de estrutura mais baixos. “A menor necessidade de presença física é claramente democratizar”, defendeu o presidente da CGD que enfrentou polémicas e contestações por encerrar balcões físicos em localidades mais isoladas.

O presidente do Novo Banco não vê um risco para os bancos da atual subida dos preços do imobiliário.

“A banca não vai esquecer que se tem de financiar domesticamente, e que está hoje mais dependente da sua poupança”, lembrou António Ramalho.

Miguel Maya defendeu que se deve trazer para dentro do banco o crédito ao consumo, que está  a ser operacionalizado por operadores especializados em crédito ao consumo. Porque o banco tem um conhecimento mais abrangente da vida do banco.

Posição que é diferente no BPI que se prepara para abrir em Portugal uma sucursal de crédito ao consumo do seu acionista CaixaBank, porque não quer trazer para o balanço do BPI o maior risco inerente ao crédito ao consumo em pontos de venda.

(atualizada)

 

 

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