O presidente executivo do Millennium BCP foi o “Decisor da Semana” depois de ter apresentado as principais linhas do plano estratégico de 2025 a 2028, o qual chamou “Valorizar (Deliver more value)”. Para tal, Miguel Maya respondeu às perguntas enviadas pelo Jornal Económico, que publicamos na íntegra.
Nesta entrevista, o CEO do BCP fala do plano Draghi, responde ao desafio de como vê o BCP daqui a 10 anos e comenta o plano estratégico do banco.
De entre as mensagens deixadas nesta curta entrevista por escrito, destacamos o facto de presidente do maior banco privado dizer que “todos almejamos uma Europa mais competitiva, com uma economia forte e socialmente mais coesa, capaz de se afirmar no palco geopolítico global”.
Miguel Maya chegou a presidente do BCP em 2018 depois de ter entrado na administração do banco em 2009. Conheceu todos os presidentes e administradores do BCP e pode dizer-se que participou em grande parte da história do banco. De que forma isso é uma vantagem para a liderança do BCP em 2024?
Considero que o facto de ter podido desenvolver o meu percurso profissional vivendo intensamente a história do Banco e comungando dos seus valores, missão e cultura, contribui para me conferir uma perspectiva mais completa da Instituição, o que, complementado pelo conhecimento da organização, ajuda-me no desempenho das funções que exerço.
Conhecer bem a organização, as pessoas, as suas trajetórias profissionais e em muitos casos as suas idiossincrasias e o seu potencial, é igualmente muito relevante.
Sinto-me privilegiado por ao longo destes 34 anos de grupo BCP, ter beneficiado de múltiplos desafios em Portugal e no estrangeiro. Aprendi e continuo a aprender diariamente com múltiplos mestres desta casa, pessoas absolutamente excecionais, que não só se preocupam com a valorização do banco, mas também com o desenvolvimento das pessoas com quem trabalham.
Uma cultura de alto desempenho em que a competição não colide com a cooperação, constitui um dos fatores mais determinantes do sucesso do BCP. Trabalhar numa instituição com valores, com espírito de Equipa, com forte resiliência e capacidade de superação é para mim inspirador.
As tormentas do BCP ficaram definitivamente para trás?
A nossa história é um ativo muito importante; todas as fases por que o banco passou, com os seus múltiplos sucessos e desafios, também com os erros que pontualmente foram cometidos e com os quais aprendemos, foram fundamentais para consolidar a resiliência e construir o Banco que somos hoje. Os profissionais do banco e todos os que ao longo do tempo contribuíram ativamente para o crescimento e afirmação do BCP, têm razões para estar orgulhosos da história que nos identifica. O Millennium bcp sempre foi, é, e continuará a ser, uma instituição bancária de referência no sistema financeiro nacional.
É sobejamente conhecido que atravessámos um período conturbado durante o qual estivemos fragilizados, mas a cultura do Banco Comercial Português, assente na qualidade dos seus profissionais, prevaleceu e foi fundamental para o notável percurso efetuado de recuperação e transformação do banco. Somos um banco sólido e rentável, que contribui de forma marcante para o desenvolvimento económico do país. Encaramos o futuro com otimismo e entusiasmo.
Apresentou um plano estratégico para 2025-2028 com metas que agora parecem muito ambiciosas. É um plano estratégico realista?
É um plano ambicioso, mas realista, que dá continuidade ao caminho que temos vindo a percorrer e nos projeta para um novo ciclo de crescimento, sustentado num modelo de negócio robusto e com qualidades distintivas.
Iniciámos este ciclo bem preparados para lidar com um contexto em que o setor financeiro continuará a deparar-se com desafios relevantes, a diferentes níveis, dos quais destacaria a perspectiva de convergência das taxas de juros para patamares alinhados com uma inflação em torno de 2%, a crescente incorporação de tecnologia nos modelos de negócio e respetivos processos operativos, e um enquadramento regulatório cada vez mais complexo e exigente.
Acresce toda a complexidade geopolítica do tempo que vivemos, cujas consequências são imprevisíveis, mas que nos requerem uma gestão rigorosa e prudente, de forma a garantir que amortecermos os impactos negativos nas famílias e no tecido empresarial e que os apoiamos nos seus projetos e na concretização das suas aspirações.
O mote que selecionámos, Valorizar, ilustra bem o que pretendemos atingir com este plano estratégico. Valorizar os clientes, proporcionando-lhes experiências distintivas e uma qualidade de serviço superior, através da combinação simbiótica entre interações humanas e plataformas digitais de excelência. Valorizar os colaboradores, dimensão essencial para desenvolver as suas competências e motivação, aspetos basilares para o sucesso da estratégia do banco, suportada na capacidade de inovação e de concretização das equipas. E, simultaneamente, valorizar os acionistas, assegurando rendibilidades superiores ao custo de capital e remunerando adequadamente o investimento efetuado, sem prescindir de um balanço robusto e resiliente.
Se tivesse que definir a sua missão no BCP como a definiria?
Liderar uma equipa de alto desempenho (a melhor do setor financeiro), tendo em vista conquistar e merecer a preferência dos clientes de forma sustentável, valorizar os Trabalhadores e remunerar adequadamente os investidores.
Como vê o BCP daqui a 10 anos? Um grande banco europeu ou um banco nacional bem comportado?
Mais importante do que saber se é um banco europeu ou nacional, importa continuar a ser, agora e daqui a 10 anos, um banco sólido, rentável, ao serviço dos clientes e da economia.
O Millennium bcp afirma-se como um projeto português com operações internacionais de sucesso, bem preparado para enfrentar e vencer os desafios inerentes ao setor. Compete-nos gerir o banco com absoluto rigor, alocando eficazmente os recursos que nos foram confiados e analisando criteriosamente todas as oportunidades de criação de valor.
Vejo sobretudo o BCP como uma empresa que servirá de forma excecional as empresas e as famílias, que valoriza e remunera adequadamente os seus trabalhadores e acionistas.
Filho de livreiros alguma vez pensou em escrever um livro?
Estou ainda na fase de deslumbramento pela leitura, da ânsia pelo conhecimento, do descobrir o tanto que ainda não sei. Não tenho sabedoria para escrever um livro pelo qual fosse capaz de interessar outros, pelo que nem sequer o considero vir a fazer.
O que pensa do plano Draghi e como é que a banca pode desempenhar um papel nele?
O relatório Draghi é um contributo importante para uma reflexão estruturada sobre o desenho do futuro que queremos para a União Europeia, elaborado por alguém que tem um conhecimento profundo sobre a economia europeia e os seus desafios.
Será consensual que todos almejamos uma Europa mais competitiva, com uma economia forte e socialmente mais coesa, capaz de se afirmar no palco geopolítico global. Para este propósito será essencial alinhar prioridades que permitam ao bloco económico europeu mobilizar os recursos necessários – financeiros, tecnológicos e humanos – com vista à promoção de uma economia ambientalmente mais sustentável e ao desenvolvimento de setores de elevado valor acrescentado, nomeadamente tecnológicos, que permitam um desenvolvimento económico forte e sustentado.
Quais os seus hobbies e o que o faz descontrair da responsabilidade de gerir o maior banco privado e o único cotado?
Primeiro uma correção: eu não giro o maior banco, eu faço parte de uma equipa, de uma grande orquestra, composta por mais de seis mil pessoas, as quais são lideradas por uma Comissão Executiva composta por mais cinco profissionais, eles sim, asseguro-lhe, excecionais.
A família, desde logo a Teresa o Miguel e o João, toda a restante família (tenho o privilégio de ser o 11º filho, o mais novo) que constitui uma malha familiar na qual encontro sempre uma válvula de escape e os amigos que me aturam e para quem a minha atividade profissional é o único tema de conversa “proibido”.
Complemento sempre que posso com atividade física intensa, quer correndo 10 km duas a três vezes por semana, quer navegando (windfoil ou Finn) sempre que o tempo me permite e na esperança que chegará o dia em que vou ter mais tempo para o mar.
Encontro também nos livros, na leitura, hábito que não dispenso nem nos períodos de maior intensidade profissional, a energia necessária para começar todos os dias com a curiosidade de quem chegou a um lugar novo que ambicionava visitar.
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