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Milan Kundera, morreu o escritor que foi muito além da “insustentável leveza”

O autor de “A Insustentável leveza do ser”, um dos maiores clássicos da literatura contemporânea, morre aos 94 anos. Deixa uma obra maior, um legado que transcende fronteiras. Mentais e físicas.
12 Julho 2023, 11h37

O escritor de origem checa, nascido a 1 de abril de 1929, em Brno, morreu aos 94 anos, segundo avançou a emissora estatal da República Checa, citada pela AFP.

Fez os seus estudos em Praga e lecionou História do Cinema na Academia de Música e Arte Dramática e no Instituto de Estudos Cinematográficos daquela cidade. Filiou-se no Partido Comunista, mas acabou por ser expulso em 1948 por não partilhar das ideias oficiais do partido.

As suas obras foram proibidas e retiradas de circulação na sequência da invasão soviética da Checoslováquia, em 1968, e viu-se obrigado a exilar-se em França, onde deu aulas de Literatura Comparada, tendo-se naturalizado francês em 1981.

A solidão do indivíduo face às forças da História é o tema que assume múltiplas variações nas suas obras, entre romances, novelas e peças de teatro. Publicou, entre outros, La Plaisanterie (A Brincadeira, 1967); Risibles Amours (O Livro dos Amores Risíveis, 1969); La Vie est Ailleurs (A Vida Não é Daqui, 1973); La Valse aux Adieux (A Valsa do Adeus, 1976); Le Livre du Rire et de l’Oubli (O Livro do Riso e do Esquecimento, 1979); L’Art du Roman (A Arte do Romance, 1986); l’Insoutenable Légèreté de l’Être (A Insustentável Leveza do Ser, 1987), romance que foi adaptado ao cinema; L’Immortalité (A Imortalidade, 1990); Les Testaments Trahis (Os Testamentos Traídos, 1992); La Lenteur (A Lentidão, 1994); L’Ignorance (A Ignorância, 2000); e Le Rideu (A Cortina, 2005).

É incontornável, contudo, destacar o romance “A Insustentável Leveza do Ser” – publicado em 1984 e considerado um dos maiores clássicos da literatura contemporânea. A ação desenrola-se em Praga, em 1968, e centra-se no cirurgião Tomas que procura a liberdade sexual como forma de alcançar a felicidade. Dentre as personagens marcantes desta obra contam-se Teresa, fotógrafa, mulher de Tomas; Sabina, pintora, amante do médico; Franz, professor universitário, amante de Sabina. A invasão soviética à capital checa, conhecida como “primavera de Praga”, vem comprometer a vida e planos amorosos das personagens.

Nas primeiras linhas de “A Insustentável Leveza do Ser”, Kundera questiona: “O eterno retorno é uma ideia misteriosa com a qual Nietzsche conseguiu embaraçar muitos filósofos: pensar que um dia tudo se repetirá tal como já o havíamos vivido e que até essa repetição se repetirá de novo infinitamente! Que significa este mito delirante?”.

Um traço indelével deste romance é o facto de não ter uma estrutura linear, recurso que facilita a compreensão da personalidade de cada personagem, a par de uma linguagem complexa e, por vezes, abstrata, que introduz diversos conceitos filosóficos abordados no romance. Adaptado ao cinema pelo realizador Philip Kaufman, em 1988, no seu elenco brilharam nomes como Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche, Lena Olin e Stellan Skarsgard, entre outros.

Milan Kundera foi galardoado em 1981 com o prémio norte-americano Common Wealth Award, pela totalidade da sua obra, tendo sido galardoado em 1985 com o Prémio Jerusalém. Embora nunca tenha recebido o Nobel da Literatura, fica para a história como um dos maiores autores contemporâneos.

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