“One for the money, and two for the show”

Lana Del Rey

 

(Entre o Natal e o fim de ano, época em que, por tradição, apregoamos valores de que nos esquecemos ao longo do ano e fazemos mil promessas que sabemos de antemão não irmos cumprir, o meu pensamento está nos meus amigos. Para aqueles que, como eu, acham que só temos esta “ficha”, a sensação que permanece é a do tempo desperdiçado, os ditos relógios moldes de Dali, em que o tempo escoa devagar mas vai-nos consumindo. Assim, a única promessa que faço é a de tentar não desperdiçar mais, incluindo a fingir que não percebo o que de muito errado se passa em Portugal.)

Temos sido confrontados com sucessivos escândalos, maioritariamente financeiros, servidos à hora do jantar, numa banalização do mal que nos impele à nossa, tão portuguesa como quase sempre inconsequente, revolta nas redes sociais. O espectáculo tem sido animado à primeira vista. Sucede que, enquanto nos divertimos com o que se vai passando, transformando tudo numa enorme piada, esquecemos que existe um rasto imenso de vítimas das tropelias que, longe de permanecerem no passado, continuam a ser praticadas. Há centenas de pessoas, presas ao vazio, no agora Grupo Altice. O mesmo se passa com os despedidos do antigo BES e, antes dele, com os do BPN, muitos deles na actual Parvalorem. Para quem já viu o filme várias vezes, os sinais sentem-se quanto à entrada da Santa Casa no Montepio, sendo que o negócio da concessão dos CTT, pressupõe mais despedimentos, a par com a distribuição de dividendos aos accionistas. Que 2018 seja o ano em que, dos anúncios inflamados, se passe a uma oposição consistente a estas fraudes gigantescas mas, acima de tudo, que seja o ano em que nos lembremos das vítimas e façamos algo por elas.