As eleições autárquicas avizinham-se e o partido que governa Portugal toma posição em matérias que andou a ignorar mas que agora entende que terão obviamente relevância para a disputa eleitoral de outubro.

Bem a propósito disto, foram ouvidos recentemente no Parlamento, mais exatamente na Comissão Parlamentar do Ambiente, autarcas e entidades administrativas sobre um projeto de ampliação e fusão de concessões mineiras em Barcelos e em Viana do Castelo. Com os autarcas divididos – Viana do Castelo favorável, Barcelos desfavorável -e com a pressão parlamentar e dos cidadãos bem como um estudo de impacto ambiental condicionado, veio a Direção Geral de Energia e Geologia anunciar na audição no Parlamento, a redução em 46 hectares do projeto de fusão e ampliação das concessões mineiras em Viana do Castelo e Barcelos.

Também o Ministro do Ambiente e da Ação Climática garantiu agora, sobre a problemática local no Minho, que não haverá exploração de lítio na zona de Rede Natura 2000 da Serra d’Arga, no distrito de Viana do Castelo, embora as localizações nesta serra, façam parte do concurso, mas assumiu finalmente ter tomado a decisão de “retirar do mapa inicial” a zona da Serra d’Arga.

E sobre as portagens, após a aprovação no Parlamento, da ‘eliminação do Pórtico de Neiva’, na Estrada A28 que liga Viana do Castelo ao Porto, abriu logo uma discussão nacional, com o Conselho de Ministros a anunciar a redução em 50% nas portagens das ex-Scuts a vigorar a 1 de julho, dando assim seguimento à proposta do PSD, que foi aprovada pelo Parlamento no âmbito da Lei do Orçamento do Estado para 2021.

Já para não falar em avanços e recuos de retóricas, de demissões e nomeações na gestão do dossier das Águas do Alto Minho, em que todos ou quase todos, já tomaram a consciência de que a marca e empresa estão feridas de morte e a única solução viável é a reversão do modelo, pois o atual não serve as populações.

Pois estes são apenas alguns exemplos de como se gere atualmente o país, com o horizonte eleitoral autárquico de outubro próximo. Anuncia-se e ‘desanuncia-se’, e assiste-se ao triste espetáculo de ver Governo, autarcas e deputados do partido do Governo a puxar para si o mérito dos feitos (obras e infraestruturas) e dos desfeitos (ambientais), numa tentativa de conseguirem benesses de resultados eleitorais, sem ter em conta que em bom rigor tem sido a oposição a conseguir por interesse público estes feitos.

Já o disse aqui por diversas vezes que Portugal não pode ser gerido apenas com objetivos eleitorais. Tem de haver critério, razoabilidade e normalidade nas tomadas de posição. Não podemos ter um Governo cata-vento, que vai tomando decisões para logo a seguir as corrigir, conforme o vento lhe poderá correr de feição ou os interesses eleitorais o ditem.

A tentação de colocar assim os assuntos na esfera política, como que resolvidos é grande, pois a ‘cultura do frenesim eleitoral’ assemelha-se a uma estratégia básica de tempos idos nas técnicas de combate político, mas que mais não é do que a assunção da derrota dos próprios. E a questão é mesmo esta, pois quem mais critica, denigre e semeia tempestades, evitando o debate público, é também quem mais busca o poder e parece mais interessado em mantê-lo ou conquistá-lo. Sejamos sérios, senhores: Portugal estará sempre acima de qualquer eleição…