Aquilo a que temos assistido nos últimos dias com o início dos debates entre os líderes dos principais partidos com assento parlamentar nas várias televisões é, no mínimo, surreal.

1. Todos os dias podemos ver debates de 25 minutos entre dois líderes partidários nos quais, por defeito do moderador ou dos próprios intervenientes, muito pouco se percebe do que realmente defende o responsável político, e raramente as mensagens passam para os verdadeiros interessados – os eleitores.

Nunca, em cerca de 48 anos de democracia, se assistiu a um espetáculo tão degradante e ao mesmo tempo tão intrigante. Quem vai realmente a votos no dia 30 deste mês? Estamos a escolher António Costa e Rui Rio para os cargos de primeiro-ministro ou estamos a escolher entre uma plêiade de comentadores que falam sobre os ditos debates durante cerca de duas horas no pós-debate e em vários serviços noticiosos das várias televisões e entre os mesmos confrontos?

Ou seja, Costa, Rio e os seus concorrentes têm 25 minutos para explicar os programas eleitorais e dizer ao que vêm, e ainda, no caso do primeiro-ministro, fazer o balanço dos últimos seis anos de governo, confrontar as opiniões e políticas dos seus adversários e responder às perguntas do moderador/jornalista, tudo isto em 25 minutos.

O modelo não funciona e tem permitido que sejam os comentadores as grandes estrelas da noite. Mais. Em alguns casos, até poderão ser estes quem determina o vencedor e o derrotado da noite, dizendo quais as políticas que defende este ou aquele candidato, mesmo quando algumas questões não foram sequer abordadas no debate dada a exiguidade de tempo do mesmo.

O tema é perigoso, será certamente alvo de estudo nos próximos anos nas universidades da especialidade, mas, convenhamos, o país merecia mais e melhor, dada a sua situação financeira e o estado de pandemia em que ainda vivemos.

George Orwell, escritor e jornalista inglês, não teria feito melhor previsão. E mesmo o malogrado Emídio Rangel, quando há uns anos disse que poderia até “vender presidentes como sabonetes”, nunca teve melhor aplicação. Este é o momento! Quem sairá realmente vencedor desta autêntica olimpíada dos debates das legislativas de 2022…?

2. Muito se tem escrito sobre o impacto da pandemia no comércio internacional e na globalização. Será que não estaremos a retroceder para a regionalização com países a quererem ficar protegidos com fronteiras?

Dados publicados pela DHL Global Connectedness Index revelam o contrário. Refere o documento que, “após uma queda abrupta no início da pandemia, o comércio de mercadorias recuperou para um nível acima do seu nível pré-pandémico antes do final de 2021”, e adianta que o comércio global de mercadorias estabeleceu novos recordes em 2021.

Claro que os países mais pobres “ainda estão atrasados na recuperação da globalização”. Conclui o mesmo documento que os países mais pobres ainda estão “perigosamente desconectados, e laços mais fortes com o resto do mundo poderiam ajudar a acelerar as suas recuperações face à pandemia de Covid-19”.