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Ministro do Ambiente diz que hidrogénio verde não vai ter custos para os consumidores de eletricidade

O PSD questionou o Governo sobre se pretende financiar a promoção de projetos de hidrogénio verde, como o previsto para Sines, através de taxas na fatura da eletricidade, tal como acontece para as renováveis. Matos Fernandes garantiu que não vão haver custos para os consumidores e que existem fundos europeus disponíveis para a promoção e desenvolvimento desta tecnologia.
  • Cristina Bernardo
15 Julho 2020, 08h00

O Governo garantiu que a produção de hidrogénio verde em Portugal não vai ter custos para os consumidores de eletricidade.

“Temos a capacidade de produzir esse hidrogénio. O hidrogénio não terá qualquer custo acrescido para os consumidores”, disse o ministro do Ambiente no Parlamento na terça-feira.

João Pedro Matos Fernandes respondia assim às perguntas colocadas pelo deputado Hugo Carvalho (PSD) sobre o projeto industrial planeado para Sines de produção de hidrogénio verde que será desenvolvido por promotores privados. Em concreto, o social-democrata queria saber se serão os consumidores que vão pagar este projeto via fatura mensal da eletricidade, tal como aconteceu no desenvolvimento das energias renováveis.

O ministro apontou que existem apoios a nível europeu para o desenvolvimento destes projetos. “Existem apoios no valor de 30 mil milhões para eletrolisadores na Europa. Eles também serão aplicados em Portugal, de forma aplicada e transparente”, afirmou.

A central de hidrogénio verde de Sines terá uma capacidade total de 1 gigawatt até 2030 e será alimentada através de eletricidade de origem renovável, eólica e solar. O objetivo do consórcio luso-holandês que está a desenvolver o projeto é que as primeiras unidades de eletrolisadores entrem em operação em 2022.

O Governo aprovou a 21 de maio a Estratégia Nacional para o Hidrogénio que visa alavancar projetos como a fábrica de produção de hidrogénio verde em Sines, um investimento base superior a 2,85 mil milhões de euros.

A 18 de junho, o Governo abriu um período para a manifestação de interesse para as empresas participarem no futuro Projeto Importante de Interesse Europeu Comum (ICPCEI) Hidrogénio, do qual o projeto de Sines é o projeto âncora.

As empresas interessadas apresentaram as suas propostas até 17 de julho de 2020, com o resultado a ser conhecido até 27 de julho.

Consórcio luso-holandês quer transformar Sines num dos principais centros de hidrogénio verde do sul da Europa

O consórcio luso-holandês Resilient Ventures, liderado pelo holandês Marc Rechter, ambiciona transformar Sines no principal centro de produção de hidrogénio verde do sul da Europa. O objetivo é  exportar este gás via navio para o porto holandês de Roterdão para o maior centro industrial químico do mundo no norte da Europa, situado na Holanda e na Alemanha ao longo do rio Reno.

“Queremos posicionar Sines como o centro principal de hidrogénio do sul da Europa. Queremos apresentar o projeto [na Comissão Europeia] o mais rapidamente possível”, disse Marc Rechter em entrevista ao Jornal Económico em fevereiro deste ano.

“Daqui a 10 anos, Sines poderá desenvolver-se como um hub de hidrogénio muito importante do sul da Europa, tem muito boas características”, destaca, sobre o projeto que tem o nome de Flamingo Verde (Green Flamingo).

O objetivo é produzir hidrogénio verde, a partir de energia renovável, para depois ser transportado em estado gasoso para o norte da Europa. E para que serve este hidrogénio? “É usado nas refinarias, nas indústrias do aço, cimenteira, farmacêutica, de vidro, fertilizantes”, explica Marc Rechter, apontando que estes setores usam atualmente hidrogénio cinzento e que estão a procurar alternativas menos poluentes.

“Na Europa do Norte, está a começar a haver um mercado muito grande de procura, porque a indústria esta a ser pressionada para descarbonizar. Entre os portos de Roterdão (Países Baixos) e de Antuérpia (Bélgica), e a área do Ruhr (Alemanha), existe o maior cluster químico do mundo. É o maior mercado para o hidrogénio do mundo”, explicava o promotor, alertando que havia um longo caminho a percorrer, pois existem várias barreiras a superar, incluindo financiamento e apoios da Comissão Europeia.

Mas de onde é que vem o dinheiro para este projeto? “O financiamento vem de vários lados. Virá em parte de programas europeus, outra parte de apoios estatais de Portugal e da Holanda, instrumentos do Banco Europeu de Investimento, bancos privados e naturalmente o capital das empresas e dos fundos de investimento”, dizia então.

Em relação a prazos, Marc Rechter apontava em fevereiro que “alguma construção inicial” poderá arrancar “algures na segunda parte de 2021” em Sines. O promotor aponta que até 2023 poderão estar prontas as fábricas de eletrolisadores e de painéis solares. Depois, até 2025, a central de hidrogénio já deverá estar a “produzir e a exportar”. Entre 2025 e 2030, o projeto deverá duplicar a produção de hidrogénio.

O projeto tem um custo total de 3,5 mil milhões de euros, e prevê a construção de uma fábrica de electrolisadores em escala industrial, outra fábrica para produzir painéis solares fotovoltaicos, uma central solar e uma central de hidrogénio verde.

A eletricidade renovável gerada na central solar vai ser usada para produzir hidrogénio através de um eletrolisador, num processo químico conhecido por eletrólise.

Já a fábrica vai produzir eletrolisadores em escala industrial que vão servir, primeiro, para a central de hidrogénio de Sines, e depois para vender para outras centrais de hidrogénio. O projeto poderá vir a criar cinco mil postos de trabalho.

Como principais mercados de exportação, o promotor aponta os Países Baixos, Bélgica e Alemanha. Em Portugal, o hidrogénio poderá abastecer refinarias, como a da Galp em Sines, ou ser usado na rede de gás natural. A central poderá vir a produzir 465 mil toneladas de hidrogénio por ano, eliminando a emissão de 18,6 milhões de dióxido de carbono por ano.

 

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