A transição para as baterias põe em risco o ecossistema da Autoeuropa? O que aconteceu à Nokia, um gigante que virou anão com a evolução do celular para o smartphone, pode acontecer em Palmela?
Luís Mira Amaral, engenheiro, economista, gestor, antigo ministro da Indústria, admite que o problema não se coloca apenas à AutoEuropa. “O problema põe-se para todas as empresas que produzem veículos com motores de combustão interna que tentam passar para veículos elétricos”.
Entrevistado por André Macedo, diretor do Jornal Económico, na conferência Zona de Impacto Global – Pensar o ESG, organizada pelo JE e pelo Novobanco, com o apoio do Instituto Superior Técnico, conta que quando Portugal atraiu o investimento da Volkwagen, fez do Ministério que liderava um gabinete que apoiou e dinamizou os investimentos na indústria de componentes para trabalhar, primeiro, para Portugal, para a Autoeuropa, e, depois, para o mundo a partir de da Europa.
A empresa funcionou como trampolim. Resultado? O país tem hoje um cluster automóvel que exportará uns 13 mil milhões de euros para a Europa, para os Estados Unidos e um pouco para a Ásia.
Nesta mudança de paradigma da indústria automóvel, a Tesla, pioneira do automóvel elétrico, começou de raiz, já os fabricantes tradicionais, como a BMW ou a Volkswagen tiveram que se ajustar aos novos tempos.
Mira Amaral explica, no Técnico Innovation Center, que o veículo elétrico é mais simples de concretizar, tem apenas um aspeto intrincado: as baterias.
“A Autoeuropa está ligada à sua cadeia de necessidades, que foi criada nessa altura em que a trouxemos para Portugal e esses fornecedores vão evoluir com a Autoeuropa. E aí há muita coisa que é preciso fazer”, disse, tranquilizando: Tudo o que é metal, plástico, injeção de plásticos, enfim, a cadeia que sustenta a Autoeuropa vai ser capaz de conseguir concretizar. É uma vantagem, salienta, porque “é uma evolução na continuidade, afinal”.
Nos veículos elétricos há uma componente novas que são as baterias. A tecnologia atual e que perdurará, segundo Mira Amaral, nos próximos dez anos, é a de baterias de iões de lítico. Aí, Portugal também não está descalço.
Portugal tem o maior recurso da Europa. “Não é grande à escala global, mas à escala europeia é importante. Quando a Europa tenta fugir da China e diversificar na questão do lítico, obviamente que o recurso português é muito importante” . Refere-se em concreto à exploração de lítio em Boticas, realizado pela empresa britânica Savannah Resources.
“Nós conseguiremos, com o que está em curso, desenvolver uma cadeia de valor, que acaba na fabricação de baterias para fornecer os veículos elétricos”, adianta.
“Na passagem da combustão para o elétrico não é só o motor, é toda a dimensão da conectividade que é importante, pelo que estas empresas da área das tecnologias de informação vão ter uma palavra a dizer”, afirma Mira Amaral, salientando: “Não estou nada preocupado antes pelo contrário. Temos aqui muitas oportunidades para aproveitar”, concluiu.
Nos últimos anos, referiu o antigo ministro, Portugal desenvolveu muito a ligação entre as universidades e politécnicos e as empresas. Mas isso é uma coisa, outra é investigação e inovação. E se o sistema cientifico e tecnológico já está na média da União Europeia, há ainda muito caminho a percorrer na inovação empresarial, isto é na passagem do conhecimento para as empresas. “Ainda há uma fraca ligação entre as universidades e as empresas”, concluiu. Como se melhora?
Mira Amaral deixa duas propostas: Mais teses de mestrado e de doutoramento em ambiente empresarial e mais professores vindos das empresas convidados para ensinar nas universidades e politécnicos. “Isto facilitar a ligação entre os dois mundos”, conclui.
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