Mário Centeno, desajeitado economista que a política alçou à modestíssima celebridade nacional que a dimensão do país permite, deu na semana passada uma entrevista à CNBC em que, questionado se faria “o que for preciso para evitar um segundo resgate a Portugal”, jurou a pés juntos que essa era a sua “principal missão”. O que não disse, mas qualquer pessoa com dois dedos de testa pensou, foi que está a fracassar.

É algo em que o ministro das Finanças não se distingue dos seus antecessores, quer dos mais imediatos quer dos mais longínquos. Como eles, Centeno limita-se a fazer pequenos remendos no Orçamento de Estado, mudando tanto quanto possível na medida em que o mais possível fique na mesma.

Se o governo anterior optou por aumentar alguns impostos e cortar esta ou aquela despesa e os colegas de Centeno preferiram aumentar determinados gastos públicos e cortar alguns impostos (aumentando outros para compensar as receitas perdidas para a compra de votos), ambos se regem pelo mesmo princípio: extrair ao bolso de alguns portugueses a maior quantidade de dinheiro possível para a “redistribuir” pelos compatriotas que cada partido quer aliciar com o seu favor político.

O resultado é o que temos: um Estado que cobra impostos demasiado elevados para serem suportáveis, mas ainda assim insuficientes para cobrir as avultadas despesas com que esse mesmo Estado se compromete. A política de Centeno só é mais perigosa para o país porque depois de PSD/CDS mascararem com a sua retórica reformista a sua política imobilista, o seu Governo decidiu “repor” o desgraçado estado de coisas que Passos e Portas insuficientemente alteraram.

Mais do que – como se costuma dizer – um problema “estrutural”, o endividamento público e as dificuldades de financiamento externo de Portugal são uma doença crónica. Periférico e pobre em recursos naturais, o país nunca conseguiu escapar a um relativo atraso económico nem à falta de capital necessário para enriquecer, nem à tentação dos portugueses esperarem do Estado os meios de satisfação das suas ambições.

Assim, os governos das mais variadas cores e regimes sempre estiveram condenados a viver no equilibrismo inerente a terem de procurar “lá fora” quem lhes emprestasse dinheiro suficiente para contentar a fome das clientelas “cá dentro”, sem que os seus juros fossem demasiado altos. Quando a conjuntura internacional era favorável e havia dinheiro para esbanjar, Portugal juntava-se à festa. Quando as coisas pioravam, logo os nossos credores duvidavam do nosso crédito e exigiam juros incomportáveis, e a “crise” instalava-se.

Centeno bem pode passear-se pela comunicação social mundial a garantir que tudo fará para evitar uma nova bancarrota. Infelizmente, por muito que se esforce, depende da benevolência do BCE (e da DBRS), como Fontes dependia das Bolsas de Paris e Londres. O mais que poderia fazer seria preparar o país para melhor aguentar o rombo quando ela se esfumar. Como tem de satisfazer as clientelas do PS, PCP e BE, não o está a fazer. Tudo o resto é conversa, na qual ninguém (“cá dentro” ou “lá fora”) acredita.