É certo que a atitude individual de cada um e a responsabilidade coletiva de todos serão decisivas para podermos aspirar a mitigar e a conter, com a melhor disponibilidade e prontidão de recursos assistenciais possível, a propagação da Covid-19.
Mas convém não esquecer que, para esta contenção funcionar, têm de coexistir duas realidades bem distintas no quotidiano dos portugueses: a do isolamento social, que mantém milhões de portugueses em casa, e a de quem tem de sair para trabalhar para garantir funções sanitárias, sociais, industriais e de alimentação.
Por isso, nunca serão demais as palavras de apreço e gratidão pelo profissionalismo e abnegado empenho de todos os profissionais das mais diversas áreas e instituições de assistência na saúde e no apoio social, de carácter público e privado, que estão todos os dias na linha da frente do combate a esta pandemia, bem como os restantes trabalhadores (e voluntários) igualmente expostos a riscos acrescidos para si e para os seus familiares, prestando imprescindíveis serviços de utilidade pública.
E também os nossos empresários e empreendedores, que lutam diariamente pela sustentabilidade das suas empresas, pela manutenção dos postos de trabalho, emprestando ainda uma boa parte da sua energia a iniciativas de apoio aos que se encontram em maiores dificuldades.
Ao Estado cabe ser muito mais proativo e protetor da nossa economia, que luta sozinha contra este inimigo invisível e pandémico. Do Estado temos de esperar um compromisso inequívoco de apoiar a economia portuguesa e de garantir a recuperação do tecido empresarial, essencial para o funcionamento da vida em sociedade.
É utópico pensar que, na economia, tudo se resolve com dilatação dos prazos de pagamentos de impostos ou com o recurso a endividamento bancário, que apenas prolongam no tempo as atuais dificuldades agora sentidas. É preciso ir mais além. É preciso ser mais ousado.
Tal como o fizeram noutros países, o Estado português tem de pensar em soluções mais eficazes como a atribuição de subsídios a fundo perdido e medidas mais flexíveis que se adaptem às reais (e urgentes) necessidades das empresas. Algumas dessas medidas nem representam custos para o Estado nem têm impacto orçamental no défice das contas nacionais, pois já estão contabilizadas como compromissos inscritos.
São exemplos disso o pagamento no imediato de todas as dívidas a fornecedores de todas as entidades públicas – que resultam no aumento da liquidez das empresas que fornecem serviços ao Estado e que também elas têm compromissos com outras empresas – ou o ajuste às reais necessidades do acesso empresarial a crédito bancário com garantia do Estado, melhorando e ajustando à realidade os mecanismos já criados pelo governo ou mesmo a desburocratização do acesso ao lay-off.
Igualmente importante seria lançar outras medidas, de âmbito do Estado local, como a diminuição do IMI às empresas e famílias, ou a componente variável dos 5% do IRS de receita local, aliviando os custos de todos durante o ano de 2020 e atenuando a quebra do rendimento das famílias, essenciais para que, após a epidemia, haja economia, emprego e rendimentos.
Com o esforço de todos, iremos ultrapassar esta grave crise de saúde pública que surgiu de forma tão repentina e intensa, alterando por completo a nossa vida e a vida de todas as organizações e atividades económicas.
É possível e desejável manter o otimismo quanto ao futuro, mas é urgente começar a preparar a recuperação e revitalização da nossa economia, de forma a atenuar todos os impactos negativos e a garantir um horizonte de crescimento. E de futuro coletivo. Até lá, e para todos os que o podem fazer, não hesitem: fiquem em casa. Portugal agradece.