Em contra-mão, o levantar de um mistério inexplicável. No passado dia 07MAR20 foi lançado no Clube do Sargento da Armada o livro “Kosovo – A Incoerência de uma Independência Inédita” do Major-General Raul Cunha.

A obra foi apresentada pelo Major-General Carlos Branco, que escreveu: “A publicação deste livro ocorre 20 anos após o dramático bombardeamento da antiga Federação Jugoslava pela OTAN, ação militar decorrente e indissociável do conflito no Kosovo. Seria difícil encontrar pessoa mais qualificada e conhecedora da região para dissertar sobre o tema do que o Major-General Raul Cunha.

Estamos perante testemunhos, na sua grande maioria vividos na primeira pessoa, no contacto direto com os protagonistas do conflito. Não se trata da repetição de citações, como acontece frequentemente. Este trabalho resulta de um vasto e profundo conhecimento adquirido no terreno, entre 1981 e 2009, ao serviço da Comunidade Europeia, OTAN e ONU, tanto ao nível táctico, como operacional e estratégico. Este livro condensa essas vivências. O autor encontra-se ainda unido à região por intensos laços familiares e o conhecimento da língua.”(1)

O Major-General Carlos Branco é, por sua vez, autor de outro livro sobre os mesmos acontecimentos “A Guerra nos Balcãs – Jihadismo, Geopolítica e Desinformação/Vivências de um Oficial do Exército Português ao Serviço da ONU”, publicado em 2016 e reeditado em Outubro de 2019. Livro que resultou, certamente, das funções que desempenhou como “observador militar da ONU no conflito da ex-Jugoslávia entre Agosto de 1994 e Fevereiro de 1996. Ainda nesse ano, ao serviço da OSCE, desempenhou as funções de monitor eleitoral nas primeiras eleições realizadas na Bósnia após os acordos de Dayton.”

E a interrogação sem resposta, o mistério insondável é o que leva a que sobre estas obras de dois oficiais generais das Forças Armadas Portuguesas, de reconhecido mérito militar e não só, resultantes de missões oficiais ao serviço de instituições internacionais como a ONU, NATO, OSCE, UE, tenha caído um silêncio mediático de chumbo, sepulcral. Porquê este silenciamento brutal de textos – na notícia, no comentário, no debate – sobre a tragédia dos povos dos Balcãs, sobre a guerra imperialista que foi movida à Jugoslávia na última década do século XX e primeira do século XXI, contada por quem a viveu?

Que razões explicam a cegueira e a surdez, o facciosismo e o preconceito dos que povoam o espaço mediático nacional e que tantas resmas de papel, tantas horas de rádio e televisão gastaram a perorar sobre a morte e o horror na Jugoslávia, através da informação das agências noticiosas ao serviço dos agressores?

Em Março de 2019 assinalaram-se 20 anos sobre o início dos bombardeamentos da Jugoslávia pela NATO, (Março de 1999). Nem a proximidade temporal dessa data da edição e conhecimento das referidas obras levou a alguma referência sobre o seu conteúdo desmistificador, esclarecedor, autêntica lavagem de muita mentira, desinformação e propaganda imperial que foi espalhada pela generalidade da comunicação social portuguesa sobre o tema. Pelo contrário, continuaram e continuam a repetir todas as atoardas e falsidades, como a do massacre de Srebrenica.

Pode dizer-se sem temer desmentido, que nada aprenderam. Basta atentar no que se lê, ouve e vê sobre a Venezuela, a Síria, a Líbia, etc., etc., etc..

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

(1) Texto do Convite para a apresentação do livro.