Em vésperas de eleições autárquicas, o Governo desdobra-se em anúncios de obras públicas, algumas já prometidas reiteradamente, de milhões do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, de toda uma parafernália de promessas, usando a propaganda do aparelho de Estado, sobretudo na vertente do combate à Covid.

Portugal comporta-se nesta batalha como um país bipolar que passa dos piores do mundo e da Europa para se apresentar, como campeão na área da vacinação, e apenas nesta, de sublinhar, graças à disciplina e estratégia da instituição castrense, porque malfadadamente os civis andaram quase sempre à deriva.

Contudo, a pandemia não pode significar pan-amnésia.

O facto de o processo de vacinação estar a ser bem-sucedido, não nos faz esquecer outras questões na área da saúde que prejudicam enormemente os cidadãos e o erário público.

Daí que se questione quantos ventiladores foram comprados pelo Estado Português para fazer face à crise sanitária e que estão parados por falta de peças, onde se encontram, qual o seu custo, se vão ser reparados, se são 253 ou mais?

E quanto aos 30 ventiladores que a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, no valor de 1,3 milhões de euros, adquiriu para o CHUA – Centro Hospitalar Universitário do Algarve: já estão operacionais, ou ficaram para sucata da pandemia?

O Estado gastou 218 milhões de euros em testes PCR à Covid-19, feitos em laboratórios privados, pelo que se questiona se também vai ser pedido algum contributo especial aos laboratórios para atenuar este esforço público.

Por outro lado, os hospitais da Grande Lisboa estiveram no primeiro fim de semana de setembro sem capacidade para receber urgências de obstetrícia e ginecologia. O Sindicato Independente dos Médicos referiu o cenário de calamidade e acusou o Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM em insistir no encaminhamento para estes hospitais e de colocar as grávidas em risco.

Os enfermeiros, por seu turno, reclamam a contratação de mais profissionais com vínculo efetivo e a progressão na carreira com contrato individual de trabalho. Com efeito, há enfermeiros com 20 e 25 anos de atividade profissional que continuam a ganhar 1.205 euros por mês, que é exatamente o que ganha um enfermeiro quando ingressa na carreira!

A aplicação móvel de rastreio de contágios de Covid-19, StayAway Covid, foi apresentada no dia 1 de setembro de 2020 no Instituto Superior de Engenharia do Porto. A app foi desenvolvida e posteriormente cedida à Direção-Geral da Saúde pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, uma instituição privada sem fins lucrativos dedicada a atividades de investigação científica e desenvolvimento tecnológico.

A StayAway Covid custou 400 mil euros, que a FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia subsidiou, mas foi um verdadeiro fiasco na sua adesão, deixando, uma vez mais, os custos do projeto para o contribuinte

Este Governo devia falar menos e fazer mais, e exercer o dever de verdade, sobretudo em época de eleições autárquicas, onde se relevam apenas os aspetos positivos e se ocultam de forma maliciosa e muito pouco ética, “pour épater le bourgeois”, as maleitas e os desastres nunca resolvidos da pandemia.