A mobilidade consubstancia um fator determinante na qualidade de vida dos cidadãos e na saúde das cidades. Em Lisboa vivem cerca de 550 mil pessoas e existe um parque automóvel de 160 mil veículos, o que resulta numa taxa de motorização aceitável. No entanto, o automóvel lidera destacadamente a opção de transporte dos lisboetas (cerca de metade da população utiliza este modo rodoviário), o que tornou Lisboa na cidade mais congestionada da Península Ibérica (índice da TomTom). Não obstante as declarações de intenção de sucessivas edilidades, a verdade é que o automóvel tem vindo a ganhar quota de utilização ao transporte coletivo.
De acordo com o International Transport Forum, o atual perfil de mobilidade em Lisboa gera um excessivo consumo de energia e de emissões de CO2, em parte devido à reduzida taxa de ocupação média (diária) do modo rodoviário: 1,2 passageiros por automóvel e 16,2% de ocupação para o autocarro. Concomitantemente, gera-se uma cadeia de valor insustentável: o uso excessivo do automóvel conduz a uma utilização insuficiente do transporte coletivo o que, por sua vez, redunda numa oferta com baixa frequência e tempos de viagem elevados. A utilização massiva do automóvel é ainda mais pungente quando se analisa o fluxo diário bidirecional de veículos (para dentro e fora de Lisboa). Em 2015 este fluxo superava os 711 mil veículos.
Note-se que a opção dos cidadãos pelo automóvel não revela insensibilidade ambiental. Na verdade, ainda há milhares de lisboetas que não têm sequer a possibilidade de se deslocar para o trabalho através de um sistema intermodal de transportes coletivos, de forma rápida e confortável. A frota do Metro e da Carris encontra-se em fim de vida útil e a necessitar de um plano de desenvolvimento que inclua a expansão, a modernização, a diversificação e a descarbonização da mobilidade.
Torna-se, com efeito, intrigante a reação – de parte da opinião publicada – à proposta de Assunção Cristas de expandir o metro para zonas sem alternativas competitivas de transporte coletivo. Um presidente de uma autarquia deve de ter capacidade prospetiva. Deve oferecer uma estratégia de longo-prazo, em detrimento de uma abordagem baseada na tática de vistas curtas. A líder do CDS sabe que o problema da mobilidade não se resolve num mandato, daí ter apresentado um plano até 2030. Um horizonte temporal equilibrado mas raras vezes referido pelos críticos da sua proposta. Temos metade do país a exigir políticos com pensamento estratégico, e a outra metade a reclamar por investimento público. Ora, Assunção Cristas está a apresentar-se à cidade com uma visão que ultrapassa o horizonte temporal de dois mandatos, e com uma proposta de investimento num ambicioso plano de mobilidade elétrica e sustentável. Uma nova forma de pensar e fazer política.