Assim mesmo, é em jeito de desafio que se faz o título deste artigo. Cada vez mais importa refletir: e se, ao invés de celebrarmos a sustentabilidade ecológica da Terra apenas por ocasião de datas relevantes, como por exemplo o Dia Mundial do Ambiente, tomássemos diariamente uma opção mais sustentada e comprometida com o nosso futuro e o das próximas gerações? É esta a principal premissa da mobilidade ecológica, também designada por ecomobilidade.

O conceito tem em conta o investimento e os mais recentes avanços tecnológicos do setor automóvel, num compromisso comum para a diminuição da pegada ecológica. Tendo em conta esta mudança de paradigma, atualmente, a escolha de um automóvel é também uma opção ambiental. Deverá, por isso, ser consciente e informada.

Contudo, e apesar de a ecomobilidade estar cada vez mais na ordem do dia, os dados divulgados recentemente pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP) demonstram que ainda há um longo caminho pela frente. Dos 6,59 milhões de veículos em circulação no ano passado, um em cada cinco (1,2 milhões) contava com mais de duas décadas, ou seja, cumpria apenas a norma de emissões Euro 2, que vigorou para as novas matrículas entre 1997 e o final de 2000.

Isto significa que registamos um envelhecimento do parque automóvel de 0,5 anos – em média cada veículo tinha 13,2 anos. É importante lembrar que Portugal já tinha um dos parques automóveis mais envelhecidos da Europa e que, de acordo com os dados agora divulgados pela ACAP, os efeitos da pandemia, conjugados com a falta de incentivos ao abate, vieram agravar o problema.

É precisamente por tudo isto que é tão importante democratizar a informação sobre a ecomobilidade. A indústria automóvel tem procurado cumprir o seu dever de responsabilidade social, sendo protagonista de um forte investimento na eletrificação das motorizações, muitas vezes sem a garantia de apoio das forças governamentais, e promovendo um trabalho diário na formação do público em geral, através de plataformas digitais onde as dúvidas e perguntas mais frequentes sobre a mobilidade sustentável são esclarecidas e estão ao alcance de todos.

Será que a generalidade dos consumidores sabe que a velocidade de carregamento de um veículo elétrico é tão importante quanto a sua autonomia? Terão já ouvido falar em mild hybrid 48V ou imaginam que há veículos que podem libertar apenas vapor de água e purificar o ar enquanto circulam? É preciso, por isso, fomentar projetos que divulguem os princípios fundamentais da ecomobilidade, procurando dar a conhecer as vantagens e desvantagens das motorizações existentes, assim como as opções mais adequadas às necessidades de cada um.

O caminho para um planeta mais verde faz-se progressivamente e não acredito que só exista apenas uma solução. Ainda que a mobilidade elétrica seja apontada por muitos como a mais sustentável, não podemos desconsiderar as restantes opções. Qualquer uma delas poderá ter um impacto enorme e será sempre mais positivo do que qualquer veículo com mais de 20 anos, cujas emissões de CO2 são inquestionavelmente superiores. Isto para já não falar, também, da própria segurança dos passageiros do veículo.

Está na altura de deixarmos cair preconceitos e ideias obsoletas em relação aos veículos ecológicos. Dentro das plataformas existentes para a “educação” sobre ecomobilidade, há uma grande variedade de ferramentas que permitem comparar as diferentes soluções disponíveis no mercado, para que o processo de compra de um novo veículo seja feito de forma consciente e informada – exemplo disso são os simuladores de poupança ou de tempo de carregamento.

Há cada vez menos desculpas para não aderirmos a uma mobilidade mais ecológica e avançar com a renovação do parque automóvel em Portugal. Pelo bem do ambiente, agir é o mais importante. Hoje vemo-nos confrontados com uma decisão entre o passado, o presente e o futuro: uma mudança na forma como nos movemos. Acreditamos que a adoção de uma mobilidade sustentável é o nosso e o vosso contributo para um planeta mais saudável.